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sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Vocação Contemplativa

Ensinança 1: A Vocação Contemplativa

A contemplação divina é o destino de todos os homens.
Como não se compreende a contemplação, se opõe a vida no mundo à vida contemplativa. Duas coisas que se opõem não podem ser reais entre si.
A contemplação é necessária porque é a possibilidade última do homem. Isto não significa que todo homem seja por natureza um contemplativo, senão que há que dar ao termo contemplação seu significado mais amplo e universal.
A contemplação não é um caminho característico para determinadas almas, nem se adapta só a certos temperamentos. A contemplação é para o homem o meio único de experiência direta e total da Verdade Divina, da Divina Mãe.
A contemplação não é uma possibilidade: é uma verdade. Só a experiência viva da alma é um conhecimento real. Não se sabe porque se compreende, se sabe porque se é.
O caminho contemplativo não é unilateral, senão integral.
A contemplação como vida não é o exercício continuado de certas orações, senão um estado permanente integrado à realidade total da existência, ativa e passiva. Esta identificação leva em forma rápida à inteligência sobrenatural das coisas divinas, que é o que comumente se entende por contemplação.
Se a contemplação estivesse desconectada da vida ativa, seu fruto compreensivo não seria uma verdade universal.
A contemplação é conseqüência espontânea da renúncia e prova evidente da Verdade da mesma.
A contemplação é o nexo que mantém a unidade de uma existência integral porque é o estado simples subjacente na multiplicidade das experiências da vida.
A contemplação não é a chegada a um ponto definitivo de compreensão, mas a condição da vida dinâmica da alma que permanece em contato substancial com a Divina Mãe.
Fazer da vida espiritual uma verdade é alcançar a experiência direta e pessoal da Verdade Divina. Senão ocorre como dizia o Buda: ‘É como o lavrador que conta o gado do vizinho’.
A contemplação é a possibilidade imediata de todos aqueles com força interior suficiente, como para manter-se continuamente fiel à sua vocação de divina liberdade.
Por isso não pode falar-se de vida no mundo e vida contemplativa. Não é o mundo quem se opõe à contemplação, senão os apetites, desejos e apegos. A vida contemplativa não é um tipo de vida especial, senão a alma que há morrido às coisas do mundo.
A distinção que se faz entre ativo e contemplativo não significa que o temperamento possa excluir às almas do contato interior com a Divina Mãe. Pelo contrário, a contemplação dá uma maior capacidade de ação ao multiplicar o potencial da alma pela renúncia a uma ação pessoal.
Há normas de disciplina interior e exterior que constituem o que comumente se entende por vida contemplativa, mas não são outra coisa que os meios mais apropriados para levar à prática real e metódica da Renúncia, que é o único que conduz a alma à contemplação espiritual.
Através da realização, a alma há de desaparecer, a alma é um composto, e a resistência contínua e natural que há que vencer com a ascética é a luta contra essa desaparição.
A desaparição da alma não significa um aniquilamento, senão sua colocação como instrumento do espírito. O mundo é o reino da almae a vida é uma contínua projeção para o exterior.
A atração do exterior é uma grande ignorância que não se destrói com o raciocínio simplesmente, mas com fatos concretos. Não é suficiente desprender-se do que se tem, há que quebrar o sentido possessivo. Não pode haver atração sem a ilusão da possessão.
O mundo chama através da possessão material, da possessão afetiva, da possessão intelectual. Mas nem sempre chama em forma direta, senão através de um estado interior mundano que afasta à contemplação.
Muitas almas praticam uma grande ascética de mortificação e oração, e não compreendem como depois de tantos esforços, mantém o mesmo tipo de atitude frente ao mundo, e permanecem às escuras frente à Divina Mãe; seu interior é mundano.
Um interior mundano é aquele centrado no mundo e não na Renúncia, que é, para o Filho, a Divina Mãe. Diz São João da Cruz que não importa quão fino seja o fio que aprisione a uma ave, sempre se impedirá seu vôo.
Isto não quer dizer que só ao final do caminho se obterá a contemplação espiritual. Pode que existam imperfeições e não ser mundano. O que importa é a idéia central que move à alma, e que pode ser muito distinta da que ela confessa. Muito amiúde a insistência em dizer que não se está apegado a algo oculta o temor de não haber quebrado ainda esse laço.
Há almas fervorosas que solem ter na oração, grandes arranques de amor divino, mas não podem alcançar a contemplação, porque ainda há nelas um grande caudal emotivo para purificar e aquietar. Os grandes movimentos da alma não são nunca uma oração muito elevada. Quanto mais alta é a oração, tanto mais simples e essenciais são os movimentos interiores, até que só permanece um estado de presença, como movimento simples em si.
A contemplação é o bem único do espírito porque é o contato direto com a Divina Mãe. Diz-se que é gozosa, mas não no sentido sensível. A sensibilidade não trabalha e praticamente não existe. O sentido da alma é profundo e simples, e nunca emotivo. Há que chegar a não ter um movimento emotivo, que não seja volitivo para alcançar a verdadeira contemplação. Os atos de virtude já não são atos realmente, senão uma super-compreensã
o e tolerância humana, por um contato direto com a realidade e verdade da vida. É, ao mesmo tempo, uma absoluta solidão do espírito à que se chega logo de haver passado a grande solidão sensível.
É a solidão do cume nevado, inalcançável à maioria dos mortais.
Há que descer à solidão interior, à solidão absoluta do coração. Mas há que descer só. Há um lugar na alma onde nada pode chegar, senão o Filho e a Divina Mãe. Ali está seu tesouro.
Primeiro se passa pela solidão sensível; sentir-se só, que ninguém o possa acompanhar nem aproximar-se dele. Logo vem a maravilhosa solidão espiritual: ‘Só com Ele só’.
Não é uma consciência ativa permanente da companhia divina, senão um sabor total do ser, da eternidade, e de ser inacessível pelas contingências da existência e pelos seres. Pode-se descer até eles, mas eles não podem chegar até nós.

Ensinança 2: Recolhimento

A vida de oração é essencialmente profundo recolhimento habitual. Neste recolhimento se acharão os estados de oração, a fixação interior, a participação.
Se bem que em todo caminho ascético místico está previsto um tempo determinado para oração e exercícios espirituais, estes nem sempre bastam como estímulos suficientes para o recolhimento, quando a alma limita sua oração aos mesmos.
Ademais, em muitos casos, Filhos que tem verdadeiro recolhimento, sofrem na hora da meditação grandes provas de aridez e distrações. Se bem neles isto não é de importância, o é naqueles que não têm suficiente espírito de oração, especialmente quando seu tipo de vida lhes exige muito movimento, conversações contínuas e permanência em ambientes muito pouco favoráveis à vida interior.
Quando maior é a necessidade de uma virada interior, maior há de ser também o número de atos de detenção e recolhimento. É verdade que se pode orar continuamente, mas até que a oração não seja subconsciente, a atividade, começando por atrair a atenção, termina por envolver a alma na mesma. Ademais a conversação e trato contínuo com pessoas de idéias e intenções geralmente opostas às dos Filho, criam centros de força antagônicos que polarizam a energia espiritual da alma para objetivos ilusórios, onde se gasta rapidamente. Esta atração não se pode opor sempre com simples invocações ou orações fixas. Faz falta um movimento inverso da alma, a fixação interior é o recolhimento.
Há que descobrir o segredo desse movimento; ter a chave da clausura do coração.
Se isto se descuida, se perde rapidamente o espírito da vida de Renúncia, que nada fora do profundo recolhimento pode manter.
Quando se perde o espírito interior da vida de Renúncia, se perde o contato com a Ensinança viva de Cafh, e a União Substancial com a Divina Mãe se afasta até fazer-se um sonho a mais.
Fora nada muda, tudo segue igual na rotina comum dos atos diários; e sem embargo falta a vida, essa vida que um simples cumprimento exterior não pode manter, senão que necessita uma estabilidade interior, a fixação da alma na mística da Renúncia feita vida, feita união. Faz falta esse imã interior irresistível que é a Divina Mãe.

Ensinança 3: O Estado de Recolhimento

Ao falar de recolhimento, não se quer significar esse estado sensível que goza a alma em algum tipo de oração sem distrações.
Tampouco a concentração natural produzida por atividades que requerem alguma atenção, nem a mais ou menos intensa nas obrigações diárias. O recolhimento não tem nada a ver com o próprio dos estados de oração, se bem que estes predispõem ao mesmo. O recolhimento não pode ser característico de um estado, é o estado mesmo. Os chamados estados de recolhimento não são mais que manifestações mais ou menos duráveis, produzidas pela persistência de certo tipo de oração e de vida. O recolhimento como estado é expressão visível da Renúncia e se produz pelo movimento inverso da alma. Movimento inverso não só respeito à tendência de atração para o mundano, senão inverso a todo sentido determinado.
Movimento inverso não é movimento em sentido oposto, senão movimento sem sentido aparente, o negativo como estado espiritual. Por isso o recolhimento é permanência, pela sua característica de não determinado.
O determinado sempre está dentro dos pares de opostos, dentro do ritmo cíclico. O não determinado é verdadeiro estado como fixação independente do tempo, do sentido de dimensão e orientação. ‘Profundidade’ seria a idéia mais indicada do mesmo.
Os estados habituais de recolhimento se desenvolvem todos dentro de outra dimensão, quer dizer, numa dimensão. Têm orientação, então têm também princípio e fim; pelo mesmo deixam de ser recolhimento.
Recolhimento é o movimento interno da alma, que é Renúncia.
Tudo isto parece estar desconectado da realidade que necessita de estados, atos e estímulos que orientem a recolhimentos, mas não é assim.
O recolhimento como estado não nega os distintos estados de recolhimento desde o momento em que, sendo estado não pode ter uma posição. Tudo é válido e necessário, mas é preciso conhecer qual é o espírito da Renúncia, para não perder insensivelmente a essência da vida do Filho. O recolhimento é a prenda de amor da Divina Mãe para todos os Filhos, porque é prenda da Renúncia do Filho.
O grau de recolhimento é o sinal que primeiro há de buscar-se, para conhecer o plano em que se desenvolve a vida da alma.
Mesmo as obras e ações mais maravilhosas não adquirem por isso um nível transcendente de existência; o único que dá a uma obra o caráter divino é o nível espiritual da vida interior das almas que a realizam.
Enquanto as almas se desenvolvem, pensam e vivem dentro da dualidade de pensamentos, aspirações, sofrimentos e problemas, seu círculo está dentro do potencial mundano no espiritual.
Mover-se dentro desse círculo não tem sentido para Cafh.
Cafh não teria nenhum valor real sem esse sentido divino de sua vida dado pelo transcendente da Renúncia.
O conceito do transcendente como mera atitude da mente não tem sentido, porque situa numa falsa posição respeito da realidade, mas sim o tem o sítio interior transcendente, que põe cada coisa em seu lugar e a alma no seu: no coração da Divina Mãe. O olhar espiritual do Filho tem que dirigir-se sempre ao mais alto e, ainda mais, manter-se ali pela fixação no recolhimento.

Ensinança 4: A Vida Contemplativa

A contemplação não afasta das contingências da vida.
O mal não está nas coisas materiais, senão no tipo de relação que se tem com elas. O mal é o afã e o desejo, que estabelecem a vida ao nível material.
O afã como o desejo, nivela.
Quando se consegue uma vida interior muito profunda, pode haver uma tendência para a indiferença frente a o exterior.
A indiferença é um desvio do caminho místico e impede a verdadeira realização que é expansão por participação.
Sem embargo, esta participação por ser estática, também se aparece como indiferença sem sê-lo na realidade, e é causa de que o mundo não possa compreender ao verdadeiro contemplativo, nem seu aparente desinteresse pelas coisas dos homens.
A vida contemplativa não consiste na contemplação permanente dos mistérios divinos, senão numa rotina ascética de renúncia que transforma os atos ordinários mais intranscendentes em verdadeiros pilares espirituais, fonte de experiência, compreensão e oração iluminativa.
Ademais, a rotina produz um automatismo das ações correntes. Não que estas se façam só automaticamente; o Filho participa realmente nelas. Porém, ao adquirir o controle e a capacidade necessários, as normas e responsabilidades pessoais se cumprem automaticamente, sem intervenção do elemento determinante da vontade que identifica ao ser com seus atos. Então este não se circunscreve a uma ação e fica livre.
A rotina é um automatismo libertador: o Filho permanece fixo e imóvel em seu centro divino, enquanto o corpo o a mente trabalham de forma eficiente.
A rotina faz que os exercícios de oração tomem um matiz distinto ao acostumado. Em primeiro lugar, perdem seu valor relevante; em segundo lugar, podem fazer-se rotineiramente áridos, especialmente depois de passado o período purgativo pela eliminação gradual das emoções extremas. Isto ajuda a que sejam menos racionais e mais simples. Por outra parte, como a alma tem cada vez menos variedade de desejos, chega um momento em que todos os temas de oração são apenas variações de uma só idéia, de uma só aspiração. Isto faz que possa resultar tedioso e difícil submeter o pensamento a passos que já parecem não ser tão necessários, e se tende a permanecer quieto, ali, mantendo-se num pensamento simples de renúncia, de entrega. Sem embargo, há que estar muito atento porque como não se está habituado totalmente a suster a alma em um ponto, facilmente entram as distrações e com elas o cansaço, a divagação e até o torpor e o sono. Há que retornar então ao exercício técnico
completo e procurar conseguir paulatinamente no mesmo uma maior passividade.
O mesmo ocorre com o hábito da oração contínua, vocalizada ou silenciosa. Se começa por manter a atenção no significado do que se diz, para passar gradualmente através de seu sentido espiritual, a imobilizar a alma na aspiração única representada por essa oração.
Quando só rege uma idéia, um só pensamento fundamental de Renúncia, todos os atos humanos se fazem super-conscientes e objetivos pala não identificação com a ação e o interesse impessoal posto nela. Este estado simples de oração conduz necessariamente à iluminação espiritual, esporádica ao começo, e logo como um estado permanente.
Habitualmente se busca um poder de concentração através de exercícios determinados. Indubitavelmente estes dão uma capacidade de concentração e certos poderes mentais, mas só uma mística de rotina dá o dom da concentração feito vida.
A rotina elimina o vaivém das ondas mentais através do ritmo do estabelecido.
A aparente escravidão de não ter que pensar o que já está estabelecido, de não necessitar nada pela renúncia a desejar mais do que o indispensável, faz que a mente se fixe espontaneamente num centro único, numa idéia única, e adquire assim o dom de uma concentração múltipla que potencializa ao máximo o rendimento e as possibilidades.
A rotina, ademais, quando é integral exige o máximo.
A rotina do homem não é tal porque ele a rechaça e não submete sua mente ao ritmo. Está ansioso e sedento de mudança. E a o fugir.
A rotina integral da alma exige o máximo de esforço e fixação interior, potencializa ao máximo as possibilidades de expansão mística porque a alma ao não poder ser encerrada no círculo material da atividade, e ao não ter escape humano, transcende instantaneamente e se fixa no centro divino.
A técnica da contemplação é absolutamente distinta da técnica da meditação. Nesta última se manejam as forças e atos positivos do ser e o esforço volitivo atua no plano ordinário da consciência.
Na contemplação, a vontade se faz pura força espiritual que introduz a alma no divino reino interior. Há uma perda das faculdades ordinárias de percepção, mas há um desenvolvimento notável das faculdades intuitivas e sobrenaturais.
O conhecimento intuitivo da contemplação é instantâneo, se poderia dizer de saber por identificação instantânea. Não há que entende-lo como um saber comum, senão como um conhecimento total, essencial, impossível de verter totalmente nos aspectos mentais que sempre estão por debaixo daquele.

Ensinança 5: A Contemplação e os Exercícios de Oração

O exercício da meditação é um movimento organizado da mente para produzir determinados efeitos na alma.
Nos temas amorosos e iluminativos leva a uma exaltação do sentimento, a experiências sensíveis até então desconhecidas.
Quando a capacidade de sentir é preenchida leva ao suspense, ao que se poderia chamar o êxtase sensível.
A meditação passiva, em troca, se bem no início se realiza mais o suspense permanente da emotividade pode levar a um estado sensível mais profundo e obscuro. Ao não intervir tanto o raciocínio na formação do discurso há maior liberdade para adquirir estados mais puros.
A contemplação dá um conhecimento direto das verdades divinas.
O afã pessoal por saber afasta do conhecimento contemplativo. Só a renúncia a conhecer é saber, porque situa o conhecimento mental dentro do marco relativo das verdades contingentes.
Quando se busca conhecer se o faz através de indagações do pensamento e o mecanismo racional. Sem embargo, há outro modo totalmente espiritual e direto. É uma concentração positiva sobre o objeto, que deixa em liberdade o espírito para contemplar e saber. É um saber tão profundo e obscuro que permanece quase desconhecido para a própria mente e dificilmente possa ela traduzi-lo em definições racionais.
É como se a alma se movesse num mundo escuro pela intensidade de sua luz espiritual e tomasse ali contato, não só com a verdade em si, mas também com a verdade das coisas particulares e definidas. Tal vez Platão se refira a ela ao falar do mundo das idéias.
Há que estudar, mas fazendo do estudo uma oração.
Quando se tem um objeto de conhecimento, ele e uma coisa y nós outra. Esse conhecimento que se pode adquirir é limitado ao alcance da percepção mental. Porém se se consegue um estado contemplativo de identificação com o objeto, se é o que se quer conhecer e nunca se poderá expressar tudo o que se sabe.
Quando se alcança a união substancial com a verdade única e simples da Divina Mãe, já não se deseja expressá-la, se se pudesse em termos de desejos.
Quando a alma toma por primeira vez contato com as verdades divinas através de um estado mental sobrenatural passa por uma euforia e arrebato, no anseio de transmitir a verdade parcial que se há descoberto. Porém quando a gente é a verdade, esta se guarda em silêncio. Este é o voto de silêncio. Não pode violar-se o segredo do que não pode ser expressado.
Há que estudar a Ensinança não só nos textos, mas na Ensinança Divina que chega continuamente ao coração em Silêncio. Esta Ensinança se transmite ininterruptamente, por participação através da Presença imóvel da alma no coração da Divina Mãe.
Na meditação ativa há uma exaltação da emotividade; na passiva esta se faz mais profunda. Na fase contemplativa há uma identificação de sujeito e objeto. Na fase unitiva se produz primeiro a expansão ativa da alma, como participação ao estado divino e participante em si e se consegue o conhecimento simples por similitude.
Quando se transcendem os estados sensíveis a União se faz extraordinariamente profunda e em certo modo se desconecta da realidade circundante. Isto não quer dizer que na expansão ativa não houvesse um estado transcendente de consciência. Se poderia dizer que há um maior estado passivo, sem perder por isso a capacidade ativa que se desenvolve como outro ordem de ação, obscura e indecifrável para o pensamento.

Ensinança 6: A Contemplação

A Renúncia conduz naturalmente à contemplação. A Renúncia em si não se pode definir. Entre o estado perfeito e o estado ascético há um vazio que tem que preencher a Renúncia contínua da alma.
Os atos de renúncia se entendem como privações, mortificações, disciplina. Portem os laços verdadeiros se rompem por atos exteriores e interiores. A ambição, a possessão, os laços de sangue e afetivos, o apego à vida, requerem uma ascética integral para serem sublimados em um amor divino.
A ascética interior necessita do ato exterior, não só como confirmação, senão como método. Não posso saber se me amo a mi mesmo, até que me proponho não falar nunca de mi, de minhas dores, problemas, desejos ou dificuldades; quanto mais das minhas qualidades. Não posso fazer silêncio em minha alma se não sou capaz de calar meus lábios. Não posso dizer que estou desapegado do mundo se não posso impedir a avidez com que meus olhos buscam esse mundo com seu incessante olhar. Não posso crer que tenha rompido os laços de sangue até que o bem-estar e a felicidade de qualquer um conte para mim como a dos meus, até que os seres queridos não ocupem em meu coração mais lugar que qualquer alma. Não posso dizer que tenha renunciado à minha vida quando minha pessoa, meu futuro, minhas necessidades, minhas realizações são mais importantes para mim que as dos meus Filhos, ou as do mundo. Essa atitude se reflete sempre exteriormente nos gestos, nos olhares, nas posturas, nas
palavras, nas conversas e nos fatos da vida.
A ascética deve ser conjunta, a renúncia interior dá uma mobilidade exterior e o controle exterior favorece o nascimento de uma nova atitude anímica.
A Renúncia transforma a cada Filho de Cafh no Filho ideal, perfeito, impessoal. Essa ascética integral, atuante sobre todo o ser, é impossível que não dê como resultado a contemplação mística. Todo o ser é transformado.
Os atos aparentemente tão simples (uma postura, um olhar, um silêncio, um trabalho contínuo), que constituem esse controle interior e exterior, requerem uma vontade e esforço totalmente consagrado à consecução da perfeição de Renúncia. São uma verdadeira morte para o homem exterior e, se são bem analisados, se verá como deles se desprendem uma a uma sem busca-las, as etapas e realizações sucessivas pelas que passa a alma, até realizar à Divina Mãe e suas conseqüências expansivas de participação e presença.
O segredo da contemplação espiritual não é um segredo; atos simples dão resultados divinos. Porém, os atos mais simples são os mais difíceis de executar quando devem persistir no tempo, rotineiramente, aridamente, sem um bem possessivo imediato a alcançar, sustido unicamente por um amor extraordinário à Renúncia que é a Divina Mãe.
Na realidade não se poderia definir exatamente em que consiste a contemplação, mas sim que há normas ascético-místicas que conduzem à contemplação. O conjunto destas normas, organizado num método de vida, é o que se chama “estado de perfeição”, adotado por todos os sistemas religiosos e espirituais que aspiram à união do homem com Deus. Sem embargo, essa ascética-mística pode ser realizada em qualquer meio e lugar por todos os homens.
A ascética-mística da Renúncia pode ser resumida sinteticamente em: Silêncio, Paciência e Rotina.

Ensinança 7: Provas que Podem Acompanhar à Morte Mística

No começo do caminho a alma está demasiado ocupada com seus próprios problemas e dores, como para que o mal do mundo seja para ela outra coisa que uma consideração à que adere por adesão ou simpatia. Porém, a Divina Mãe ensina através da dor.
Dificilmente as provas da compreensão e da fé se apresentam sós; habitualmente são conseqüência de provas sentimentais ou de conflitos interiores e eles, por sua vez, solem ser desencadeados por fatos que podem em aparência ser intranscendentes.
Os fatos exteriores não provocam os conflitos, so dão ocasião de que façam irrupção.
Enquanto a Renúncia não passava de uma posição da mente e do coração, as dores e as provas não iam demasiado fundo. Mas a vida prova por si mesma e chega sempre o momento dos cortes dolorosos e profundos.
Nesses momentos a alma sente como se a Divina Mãe a soltara da mão e permanecesse só. Não é que Ela o deixa, mas é impossível que possa perceber Sua Presença quando está toda absorvida por suas lutas interiores.
Tudo se faz escuridão e fica só a dor crua, como se isso fosse a única realidade da existência.
Se a alma tem um verdadeiro amor de Renúncia, nesse momento sua dor se faz expansiva..
Os seres egoístas, quanto mais aumenta seu sofrimento, mais se encerram em si mesmos. Porém o coração do Filho se faz grande na dor. Ainda quando não vê nada, quando não tem nenhum sustém; ainda quando vê a ilusão de todos os laços e apegos, tem ante si uma realidade viva e tremenda pela sua magnitude: a dor da vida sobre a terra. Rapidamente vá tomando consciência através de seu próprio sofrimento, da dor ignorada de milhares de milhões de homens. Não só dos que agora vivem no mundo, mas daqueles que foram e dos que virão.
A vida se aparece como uma imensa bruma, onde todo está banhado pelo vermelho escuro da paixão e a desesperação. E na profundidade insondável da angústia de seu coração tudo aparece sem sentido. Não só sua mente, mas toda sua carne, todo seu sangue pergunta: “Por que?”
É a pergunta impossível de responder que afunda ainda mais a ferida de seu coração.
Sua imensa compaixão lhe faz crer que se separa do Deus da luz, para sumir-se na bruma da miséria humana. Não quer ter olhos; prefere ser cego e submergir-se na desesperação aparentemente sem sentido da vida, antes de unir-se à suprema felicidade e ao supremo bem, que sabe que está ao alcance da mão.
O mundo é para a alma um imenso poço de sangue, carne e desesperação, em que as almas são imoladas continuamente, um buraco sem luz, sem explicação, sem justificação, sem destino.
Isto transcende a capacidade corrente das emoções comuns; é uma angústia de morte, um estouro. Até a morte parece um consolo, que se rechaça. Um coração humano não pode senti-lo; não tem capacidade.
A alma crê fazer-se mais humana em sua dor ao fugir de Deus para unir-se ao homem; porém se faz divina. Crê que se afasta de Deus, mas se une à Divina Mãe. Sus imensa dor, sua renúncia à compreensão, a luz e a paz; sua consciência da dor e a escuridão da vida, fazem que leve sobre si o peso do mundo, que sua alma se expanda transcendendo a dor e a não-dor, a luz e a escuridão.
Não há resposta para os interrogantes últimos da mente; a vida não se explica com uma resposta. A vida adquire sentido através da Renúncia.
A uma alma que passava por esses estados, seu Diretor Espiritual lhe respondeu: “Contemple a Cristo na cruz e encontrará resposta a todas suas perguntas dialéticas”
Esta prova é totalmente espiritual e participa todo o ser. Quando passa sobrevém a paz; mas a alma é outra; ela é Cristo na cruz. Sua compreensão, seu amor, sua consciência, tudo é participação. Sua vida já é a vida de todos os seres e é, ao mesmo tempo, uma vida dentro do coração da Divina Mãe.
Não se participa somente da dor do ser humano ou do amor de Deus; tudo é uma unidade. Nesta unidade que é o holocausto vivo e permanente, está a solução do grande mistério, do sublime mistério da Divina Mãe nas almas.

Ensinança 8: O voto de Holocausto

“Minha alma está atada eternamente a todas as almas. Assim como Deus está preso na criação, assim minha alma está presa pelo amor a todas as almas. Elas são minha vida; elas são eu mesmo.” Esta é a perfeição do amor, a perfeição da Renúncia; a desaparição nas almas.
Desaparecer não é aniquilar-se senão ser, expansivamente. Quando essa expansão abarca o universo é perfeita, é a desaparição na eternidade e infinitude de Deus nas almas.
Por que essa expansão é holocausto?
Os homens crêem que a união é um gozo sensível, esquisito, mas então haveria também uma dor sensível esquisita.
A perfeição da União é desaparição que é holocausto; a imolação do Espírito na vida da separatividade e a dor.
Sou o que sou, mas sou nas almas; nessa dualidade está a dor divina e redentora que só acaba na Eternidade.
Pelo Voto Eterno de União se perde definitivamente o ser como existência separada, e se é, como participação simples, eterna e universal.
A união com os que foram e virão, faz da vida existência eterna, presença divina.
A união com o Cavalheiro Grande Mestre é união à Presença da Divina Mãe pela União Substancial.
O Voto de União é holocausto porque é o sacrifício último; a não existência desde o ponto de vista pessoal, a ruptura do último véu de diferenciação.
O Voto de União é holocausto porque é união com a dor humana em seu aspecto universal de limitação e escuridão, como circunscrição de possibilidades relativas; mas ao mesmo tempo de aquisição de possibilidades expansivas ilimitadas por reversibilidade, por presença imóvel na essência da dor e da limitação.
A união eterna com o Cavalheiro Grande Mestre faz do Filho expressão permanente da Vontade e do Verbo divinos, e imagem perfeita da Divina Mãe.
Faz-se imagem do Deus-homem, do divino mediador; sua vida humana é um ato eterno e continuo como sacrifício de carne e de sangue.
A dor redentora, a dor pura, não pode ser conhecida pelo homem.
Não é um sentir; é um ser, um viver, uma interpretação de forças. Não é uma vivência senão a vida mesma da alma. É o ato de suprema Renúncia; não se renuncia à limitação senão à Eternidade, à paz definitiva. Tem que ser assim. A perfeição é um estado impessoal expansivo.
A União Divina é o êxtase perfeito; retornar à vida sem perdê-lo e a expansão do mesmo sobre os homens e o mundo. Não para fazer uma dualidade, senão porque em Deus a dualidade não existe.
A União Divina é desaparição; só fica a testemunha simples como testemunho de Deus sobre a terra.
A participação de holocausto está ali, frente à alma, como sua própria vida, seu destino, seu ser. Sem embargo, permanece o grande mistério da aquiescência, da liberdade da alma.
O Holocausto, para ser tal, há de ser um ato espontâneo da alma livre. Não estritamente como uma oferenda, senão como expressão da última oferenda: sua individualidade, sua liberdade divina e soberana.
Não há liberdade senão através da participação da alma na vida, na existência plena de Hes e Ahehia: Ele é; Ele não é; Ele é um; Ele são Muitos. É Holocausto aos olhos da separatividade; vida para o Espírito.
Voto: O Voto é o selo, o estigam divino sobre a alma transformada. A confirmação eterna; um ato contingente dentro do tempo se faz simples e eterno. É o nexo entre a Divina Mãe e a alma: a aliança divina.
Eterno: O Filho, por sua renúncia, se faz imortal: Ele é, ele foi, ele será; nos Filhos, nas almas, nos mundos, na Eternidade.
De União: Participação de presença. É testemunha simples de Deus em cada alma e é, ao mesmo tempo, holocausto vivo do amor e dor em cada uma delas, fazendo-se uno com elas para a Eternidade.
Com os 43 Filhos da Távola: Se estabelece o círculo magnético divino-humano. Divino através da União Substancial com a Divina Mãe. Humano porque é realização da Idéia Simples na carne, o sangue e a dor do mundo dos homens, holocausto de sangue.
E com todos aqueles que foram e que virão: a participação humana se faz expansiva, remonta a separatividade, abarca todos os mundos, todos os estados de vida e consciência, até fazer-se uma unidade simples e eterna, como Ired, como vida divina.
Recebei Filhos de Cafh minha benção: O Ired se fecha: a União Divina é um êxtase perfeito que se derrama continuamente sobre as almas e o mundo.
O Voto Eterno é Voto de Holocausto porque é Voto de Participação substancial.
A União com o Cavalheiro Grande Mestre é união com a divindade imolando-se eternamente nas almas; é o sangue divino unido ao sangue humano, liberado-a através de sua dor redentora.
A dor redentora não é dor humana, senão a dor divina fazendo-se humana. A Divina Mãe fazendo-se carne e sangue com seus Filhos.
A expansão da alma, ao fazer-se não determinada, a transforma em presença mística em todas as almas. Todas as almas vivem assim na alma do Filho, e ele faz de sua vida a vida de todas as almas. Se transforma assim em imagem perfeita da Divina Mãe, não só por sua União Substancial com Ela, senão como expressão perfeita Dela, no sentido de uma vida feita existência universal.
Ao fazer-se uno com o Cavalheiro Grande Mestre ele se faz uno com a Eternidade.
O Cavalheiro Grande Mestre é um e único, expressão do Espírito Divino que é a vida de Cafh. O Filho se faz assim o protótipo, o Filho ideal, divino, perfeito, imagem Do Filho, o Divino Iniciado, o Redentor.
O Voto de União de sangue com os que foram e serão, é o laço indissolúvel de amor que o faz co-redentor por participação substancial com o Divino Iniciado.
Seu Voto de União com os 43 Filhos da Távola o liga espiritualmente à coorte de seres divinos, que formam o círculo místico de ajuda e salvação para a Humanidade. O liga indissoluvelmente ao destino divino e ao padecimento humano, como cadeia eterna feita com elos de amor e dor, de sangue e espírito.
A emissão dos Votos se apresenta à alma como a culminação de todo um esforço e conquista espiritual. O Voto de Holocausto não pode considerar-se desta maneira. O Holocausto não pode ser uma conquista, é algo que já está na alma.
O Voto não é mais do que a confirmação do que já está na alm. O Voto é para o Filho o Selo Divino posto sobre sua imolação humana e espiritual. É o irrevogável, o definitivo, o Eterno.
O Caminho da Renúncia é de realizações objetivas, concretas. Se não, a Renúncia seria uma outra abstração. Renuncia-se aos bens possessivos, mas os bens espirituais há que possuí-los, para poder dá-los.

Ensinança 9: A Oração e os Votos.

Se fala, se pensa, se sente, sempre em termos dualísticos e a vida é uma unidade. Não há que entender esa unidade como uma coisa só, senão como um todo orgânico indivisível e simples em si, composto como atributo.
A alma não é simples; por isso a oração é só um ato para ela, porém a oração é sua força, sua potencia e sua possibilidade divina; sua desaparição como alma.
Da mesma maneira os Votos são algo exterior ao ser, até que são realizados como expressão espontânea do ser sobrenatural.
Por isso os Votos se conquistam através do esforço espiritual e se realizam através da morte; morte no sentido de desaparição mística na divindade.
A oração leva a alma a um estado divino idealmente e os Votos são a expressão real e permanente dessa realização.
É verdade que humanamente o Voto é uma expressão contingente, mas ao mesmo tempo é um ato eterno de identificação com a própria verdade espiritual.
A ascética da oração leva necessariamente à realização progressiva da oferenda através dos votos, mas os Votos são sempre expressão única do verdadeiro ser espiritual. De não ser assim não seriam um ato simples, divino; seriam só uma atitude.
Fala-se aqui do Voto em seu sentido divino e sobrenatural.
Se os Votos não fossem expressão necessária do espírito, não seriam a expressão da liberação do ser senão sua escravidão. Por isso cada Voto é, através da limitação que impõe, um campo de possibilidades divinas para a alma.
Na realidade, em sentido sobrenatural, só pode falar-se do Voto: da aliança sobrenatural entre o homem e Deus. Porém, humanamente é necessária a aproximação gradual do homem à Divina Mãe.
O único que existe, como Voto, é o selo divino na alma: o nexo simples e eterno entre Deus e o homem.
O Voto, como realização da vocação espiritual, é um ato livre da alma; não é na realidade um ato de eleição senão de assentimento.
A Divina Mão chama a suas almas; elas só podem dizer: sim ou não.
O Filho, ao pronunciar seu primeiro Voto, não pode conhecê-lo em toda sua mística profundidade, mas sabe que ele é através desse Voto. É a percepção intuitiva da verdade da vocação através da oferenda da Renúncia.
Os Votos são. Ao ser a possibilidade divina da alma, são sua única realidade.
A oração é, então, um caminho de auto-reconhecimento a través dos Votos. O reconhecimento através dos Votos é a identificação espiritual com o valor transcendente dos mesmos.
O significado do Voto perde assim suas limitações humanas e adquire uma grandeza incomensurável. Neles está vertida toda a doutrina e o caminho, as Ensinanças e a mística da desaparição (silêncio), e presença (holocausto).
Os Votos devem ser o objeto da oração, porque neles estão resumidos todos os tesouros espirituais do Filho.

Ensinança 10: O Conhecimento Simples

O conhecimento simples é um estado de unidade e similitude entre sujeito e objeto. Esta unidade é impossível de conseguir através de um estado ativo da mente, que sempre é dualista. O conhecimento ou compreensão racional é sempre dualista. Os exercícios passivos reduzem o movimento mental, tendendo à subjetividade. Uma imagem ou estado subjetivo não é dualista e costuma a outro tipo de vivência.
Quando se há adquirido a capacidade de identificação subjetiva e com imagens objetivas, pode se passar à concentração subjetiva sobre imagens abstratas, e alcançar assim uma nova ordem de conhecimento e um estado mental sobrenatural.
A contradição, o paradoxo, o conceito irracional, é uma forma de conseguir essa identificação subjetiva e um conhecimento simples. O paradoxo, o irracional, imobiliza a mente racional como si fosse um choque. É como tomar um forte empurrão para deter-se subitamente, bruscamente. Esta detenção mental, essa perplexidade sistemática, impede o razoamento lógico e prepara o espelho mental para outro tipo de percepção, mais passiva e subjetiva.
A expressão incompreensível nasce espontaneamente, porque a limitação da linguagem faz surgir inevitavelmente a contradição quando aspira a elevar-se às verdades divinas.
Outra forma de conseguir um conhecimento subjetivo é através do exercício da meditação potencial; se provoca o estímulo mental, mas não se permite a resposta racional. Essa força geradora e não gasta num sentimento ou uma compreensão comum, conduz facilmente a uma identificação subjetiva e um conhecimento simples.
O fato de que o conhecimento assim adquirido seja subjetivo não lhe resta realidade. Um conhecimento é tal quando é parte da alma, é o indivíduo mesmo; se não é uma teoria, uma abstração. É claro que pode não ser um conhecimento total, mas é um meio de alcançar esse conhecimento total.
Quando a ascética adequada é sustida por um estado real de Renúncia, a consciência pessoal vai deixando de ser o sujeito e se amplia paulatinamente para o ser espiritual. Então a identificação não se produz com um objeto de conhecimento arbitrário, senão com estados de consciência cada vez mais amplos, até que todo o ser se transforma num estado em si único, simples e divino.
Tem que chegar o momento em que o sujeito deve desaparecer. Se não, haveria duas coisas: a alma e a Divina Mãe. Chegamos aqui ao ponto em que a consideração deve deter-se. Se há identificação, como não há desaparição? Se é um, não pode ser dois. É um, mas é dois, porque por mais alto que se chegue sempre se está dentro da expressão de Deus. Esta dualidade não é multiplicidade, senão a simplicidade por reversibilidade.
Este conceito que choca com a mente racional, é incompreensível; mas pode experimentar-se transformando-se a si mesmo, pela oração e a Renúncia, em imagem dessa simplicidade através de um estado interior de similitude. Assim se consegue uma identificação contemplativa e se é o que se quer conhecer. Sem embargo, isto ainda é um movimento da alma e não é a suma perfeição que é Presença.
Até agora a alma só há conseguido identificar-se e transformar-se no movimento simples que é a vida. Quando se consegue a imobilidade espiritual que é Presença, não se é a vida, se é testemunho da vida, Testemunho Simples da Eternidade, imagem perfeita e similar da Divina Mãe que porque Não é, É.
O conceito de potencial só existe em relação com o fator tempo. A eternidade não é um tempo infinito, mas o não-tempo. Quando se há vencido ao tempo pelo ato externo de Presença, se há realizado o potencial, Hes. A Ressurreição de Hes, entendida racionalmente é a transformação do potencial em ativo, porém espiritualmente significa a realização da alma, o nascimento à consciência espritual do ser que transcende toda dualidade. O exercício de meditação tende a levar a esse estado de consciência além das distinções racionais de diferenciação e se consegue por um recolhimento profundissimo, além da técnica e as distinções racionais.

Ensinança 11: Dificuldades na Oração

Algumas almas se queixam às vezes que não podem meditar porque lhes resulta pesado o exercício, se cansam e pedem a seus Superiores que lhes façam mais leve a rotina de sua disciplina espiritual. Os Superiores observam também que os métodos de oração não em todos os casos dão o resultado esperado; não se nota um adiantamento evidente na oração, há um aparente estancamento. Depois de um momento de entusiasmo vem o desinteresse, o fastio, o cansaço; são muito poucos os que perseveram e muitos os inconstantes. Sem embargo, ainda quando não se persiga um fim imediato, o exercício de meditação feito metodicamente dá sempre, necessariamente, um resultado; e chega um momento na vida em que se recolhem espontaneamente as conseqüências da ascética espiritual.
Apesar disto, não em todos os casos o resultado da ascética é o que deve ser; a transformação total das almas. Dentro do caminho ascético místico podem apresentar-se muitas classes de dificuldades, mas fundamentalmente são de dois tipos: o primeiro consiste em todos os problemas e tropeços inerentes à mesma ascética. Estes são lógicos e convenientes, já que são parte desta ascética. Os segundos nada têm a ver com aquela, e são derivados da posição fundamental que tem o Filho respeito à sua vocação y sua situação.
É imprescindível distinguir claramente estas duas classes de problemas. Se assim não se faz se produz rapidamente uma grande desorientação interior, sentimentos de estancamento e fracasso.
Discernir clara e exatamente o móbil e origem das dificuldades e atitudes das almas, é fundamental para orientá-las definitivamente para a realização de sua vocação espiritual.
Para que a orientação seja plena e seus resultados transformantes, o Filho deve ser uma Unidade. Uma unidade em seu sentir, em seus esforços, em suas aspirações, em sua vida, em sua vocação. Se não é assim sua ascética será descontinua, seus esforços serão encontrados e lhe resultará muito difícil participar da vida espiritual de Cafh.
Se o Filho faz de Cafh outra de suas coisas sua vida não poderá estar centrada em si, porque Cafh será para ele algo, mas não ele mesmo. E essa dualidade é impossível. Deste modo a oração não pode ser plena, total. Se o Filho é uma unidade, dessa Unidade flui a Ensinança, flui a palavra criadora, flui o exemplo, flui a paz, flui a irradiação de presença. Senão o Filho é um esforço descontinuo, uma idéia esporádica, um avançar, um deter-se, um retroceder. Deste modo é impossível participar substancialmente na Grande Corrente; por um momento se integra à mesma e logo choca com ela. Por isso algumas vezes as almas se sentem desconformes. Elas crêem sinceramente que o estão com a meditação, com o método ou com qualquer coisa exterior, mas em realidade estão desconformes com elas mesmas. É comum descarregar fora a responsabilidade que não se está disposto a assumir.
Se dá o caso, ademais, de algumas almas que se bem se inclinam a Cafh com grande entusiasmo, também têm dificuldades em seu desenvolvimento espiritual. Demasiado entusiasmo nunca emana de uma posição realmente espiritual. O entusiasmo é um sentimento muito pessoal que surge de satisfações também pessoais. É a euforia que se sente ao receber os Dons de Cafh. Se por trás disto não há uma verdadeira vocação de Renúncia a força do entusiasmo dura muito pouco e rapidamente as almas se sentem detidas; surgem as dificuldades, e se começa a perder o tempo buscando a origem dos conflitos no modo de cumprir os exercícios espirituais, os problemas externos, etc. É dizer, se indaga a causa imediata, quando na realidade a verdadeira raiz está na falta de consciência vocacional das almas.
Enquanto a força que anima o Filho não for totalmente impessoal e desinteressada dificilmente poderá achar plenitude na sua ascética mística. Viver a Renúncia é viver sem apegos, sem ilusões pessoais, sem esperar nada. É viver só com a Divina Mãe. Mas ás vezes a presença da Divina Mãe é uma maior solidão ainda, porque pode ser uma presença obscura, uma não presença, um desconhecimento da Essência Divina para permanecer só um conhecimento das responsabilidades, da rotina, da tarefa diária.
São poucas as almas dispostas a dar tudo; são poucas as almas dispostas a dar-se completamente. São poucas as almas a saltar por cima de seus excessivos problemas e dores, para viver a União Substancial com a Divina Mãe através de uma oração de Renúncia.

Ensinança 12: Testemunho simples

A oração não pode ser plena e total se todo o ser não está posto nela. Ao dizer todo o ser não significa a veemência do vôo sensível, senão o ser em sua totalidade.
Como as almas não são uma unidade há nelas desejos encontrados. Estes desejos fazem que não seja empregado todo seu ser numa só idéia, mas são forças opostas e dispersas.
Não basta toda a boa intenção posta na oração; esta intenção deve fazer-se atuar permanentemente, para canalizar todas as forças para a idéia Única.
Depois de um tempo no caminho espiritual o Filho deve ser expoente da Doutrina. Senão é um estorvo.
O Filho deve ser testemunho vivo da Renúncia e não o conseguiria se não é testemunho de fé. Não basta crer; há que ser o que se crê.
Ademais da ação mística sobrenatural das almas consagradas, o mundo necessita de um exemplo vivo de homens e mulheres que hão feito carne sua Doutrina.
É impossível que possa plasmar-se no mundo a idéia fundamental da Renúncia, se não encarna primeiro em quem deve predicá-la.
O Filho deve ser testemunho vivo de sua idéia; exemplo simples, presente frente ao mundo como imagem sempre permanente da perfeição.
Os Filhos devem ser a Renúncia feita carne, feita sangue, feita vida. A hora urge, são muito poucos e a obra é imensa.
Têm o mundo em suas mãos; seus objetivos são universais e extraordinários. Não podem dilapidar uma gota de energia, um instante, um pensamento, nada.
Tudo deve estar centrado na idéia Única da Renúncia.
Os Filhos são poucos. Aqueles que não estiverem dispostos à entrega total e absoluta não podem durar. A Divina Mãe o quer tudo ou nada. Não importa que sejam muito bons; não os quer. Então devem unir-se muito fortemente para constituir uma força poderosa e invencível em sua oferenda. E para consegui-lo devem ser totais.
Para ser testemunho de fé há que queimar-se nessa fé absoluta que é a Renúncia e morte. Só através da desaparição espiritual se é testemunha simples da Idéia Divina.
De nada vale falar de mistério tão divino como este, se não se está disposto a entregar a vida na morte de uma Renúncia continuada e inalterável. Ser Testemunho Simples é haver desaparecido através da União Substancial com a Divina Mãe.
O Filho fica imóvel em seu centro divino e ali permanece como testemunha de Presença. Ele é, simplesmente.
Não é necessário ouvir a prédica do Buda; basta olha-lo.
Assim o Filho, como presença imóvel em seu centro divino em sua Idéia Única, em sua Renúncia, é prédica e ação, união e redenção, ato e potência, amor e dor, vida e morte. Ele é.
A oração é o meio para realizar a Deus; porém deve ser plena, total, integral.
A oração não pode ser plena se não abarca a todo o ser. Não só sua mente e seu coração; seu corpo, sua vida, suas possibilidades; seu passado e seu futuro; toda sua existência deve estar ali presente para ser queimada totalmente no fogo divino da Renúncia.
A União Substancial é isso; quando todo o ser, corpo, mente e espírito, se fixa permanentemente no ponto simples e eterno que é a Divina Mãe.

Ensinança 13: Vida de Oração

Para que a oração seja plena o homem tem que transformar-se num testemunho de fé, deve discernir continuamente na ensinança as verdades evidenciadas e as verdades possíveis. A alma está sempre num estado de perfeita oração quando tem a verdade divina centrada em si.
Para que os exercícios de oração tenham um efeito espiritual pleno, a meditação discursiva deve estar baseada na fé.
A meditação sensitiva há de estar baseada numa renúncia constante respeito ás emoções e satisfações cognoscitivas, para permanecer num estado mental-sentimental divino desconhecido (algo não visualizado).
A oração perfeita é sobre o desconhecimento da Essência Divina.
A vida do Filho, para ser tal, há de ser vivida em oração.
A plenitude na oração é uma coisa diferente do que comumente se imagina. Quando às vezes se sente plenitude na oração, não é que se faz uma oração plena, se faz uma oração sensivelmente plena. Uma oração sensivelmente plena é um gasto, uma emoção, um sentir.
A oração plena é um estado de vida do ser, não um sentir. A vida inclui sentir-se, más é um sentir, não é vida. A oração deve sair do plano dos sentidos para colocar-se na vida do ser.
Só quando a oração é a vida não é descontinua, só quando a oração é a vida do ser, o ser está centrado. Porque então a oração na é uma coisa que se faz com os lábios, ou se vocaliza com a mente, ou se visualiza com a imaginação; a oração é um controle contínuo do ser, um manter-se sempre em seu centro. Em seu centro integral, não em seu centro ideal, em seu centro imaginativo, em seu centro emocional. É a localização contínua do ser como homem, como alma, como força dinâmica, como fixação estática, como trabalho afetivo, como trabalho volitivo, como trabalho físico; é a localização do ser na integridade da vida.
Então, não é um ato de oração o que é pleno, o ser é plenitude. E só através dessa plenitude, se obtém a força que necessita para poder transmitir a idéia da Renúncia e cumprir sua missão na vida.
Manter-se situado em Cafh não é fácil porque é uma colocação dinâmica.
Em Cafh nunca se pode dizer: estou situado, porque ao dizer ‘estou situado’ já está fora de situação. A situação, ao ser dinâmica, exige a renúncia contínua do ser, que é a liberdade do ser. Então o Filho ao ser livre, se posiciona na dinâmica de Cafh, que é a dinâmica da vida, e sua colocação transcende.
Por outra parte, quando o Filho compreende a limitação de seu trabalho humano, dentro do campo magnético em que atua, ao limitar suas pretenções, ao circunscrever-se a uma idéia concreta e não pretender de seu trabalho mais do que este é, transcende e se situa universalmente.

Ensinança 14: A Oração Plena

Não pode haver oração plena enquanto exista nela um resto de interesse pessoal. Esse egoísmo, embora seja espiritual, impede uma expansão num sentir universal.
O homem não pode transcender suas pequenas misérias, senão renunciando a elas. Por isso quando se propõe enfocar um aspecto universal, uma lei transcendente ou um estado espiritual, não o consegue. Não pode fazê-lo porque o faz com um fim, para conseguir algo, uma compreensão, uma expansão pessoal. Esse interesse, esse afã, esse egoísmo, lhe fecha a possibilidade do contato com uma esfera de consciência mais ampla porque circunscreve sua elevação interior, a seu raio, à sua percepção, a seu estado de consciência. Por isso, ainda quando se façam muitos atos de renúncia, não por isso se chega a uma compreensão ou alcance além de si mesmo.
Tudo depende do motivo, da idéia que rege esse esforço. Essa idéia única deve ser a Renúncia real, não a Renúncia ideal.
Só se conhece quando já não se deseja o conhecimento, se possui quando nada se tem.
A possessão só é possível por reversibilidade.
O desprendimento, a oferenda, o sacrifício, o ato contrário, contrário à natureza humana, contrário a seu estado de consciência, contrário ao instinto e ao egoísmo animal, contrário ao movimento pessoal da vida, destrói a casca, o círculo estreito de um estado limitado para abrir a alma a um novo mundo, ao universo, à existência.
A Renúncia é possessão por participação, é plenitude, é vida. Porém se alcança pelo sacrifício, a dor e o absoluto domínio da natureza animal do homem.
Não pode haver oração plena se a vida não é uma unidade, se não se vive o que se diz.
A Renúncia não adquire sentido pelas explicações ou o brilho oratório, senão pela autoridade que dá a possessão da Renúncia. As palavras soam ocas, retóricas, se não estão carregadas pela força da fé viva da alma que só se obtém com o sacrifício contínuo, a oração, a oferenda, o holocausto.
A oração não pode ser plena se não se expressa na vida exterior.
Se é como todos os homens do mundo, más não se pode ser igual a eles.
A Renúncia põe um selo na alma, que se vê, se sente, se toca, tão real que é.
Se há renunciado a tudo essa atitude tem necessariamente que expressar-se na relação com a vida, os seres, as coisas.
A realização não é uma palavra, é um feito vivo, concreto, evidente e se reflete em fatos vivos, concretos, evidentes.

Ensinança 15: A Concentração Subjetiva

Na meditação sensitiva a imagem é percebida através dos cinco sentidos. O objeto é afinar a sensibilidade dos sentidos para aguçar sua percepção. Sem embargo, este exercício não permite transcender a evidência sensível.
Há um grupo de oração que, se bem assume a forma de uma meditação corrente, é um verdadeiro exercício de concentração subjetiva.
Na concentração comum o ser fixa a atenção ativamente sobre o objeto, até que consegue que a mente não se mova dali. A concentração se faz subjetiva quando começa a identificação entre sujeito e objeto. Esta experiência pode começar na meditação.
A diferencia característica está no quadro imaginativo.
Se começa por fixar a atenção na imagem e pouco a pouco transladar a consciência para a imagem. Por exemplo: se vê uma ave no céu, flutuando no ar. Fixar tanto esse flutuar no ar até que começar a sentir que nós flutuamos no ar, como se fosse a ave. Isto que começa por ser um simples exercício, leva a uma identificação profunda com o ser das coisas e ainda com as coisas inanimadas, que só podem conseguir-se através de um estado subconsciente.
No estado consciente ordinário essa identificação é impossível. Na concentração subjetiva passa como nos sonhos. Vê-se uma imagem qualquer, absurda talvez, mas se sabe que é uma ou outra pessoa.
Em realidade, este é só um exercício subjetivo, más que facilita a consecução da subjetividade na meditação.
Ensinança 16: A Oração de Participação Natural

Vê-se uma imagem e se entende outra coisa, mas não qualquer coisa senão o que esta imagem representa como símbolo.
Por exemplo: se vê uma porta e se entende uma possibilidade. Não se entende como se fosse uma interpretação senão como se a gente fosse essa porta, essa possibilidade. Vê-se a paisagem por uma janela, se é um novo mundo que entra na consciência. Não é que se entenda que virá a nós esse mundo, senão que a gente é esse novo mundo.
Estes estados não há que busca-los. Não se pode dizer se a participação natural se alcança através de um exercício, mas é bom saber de que se trata. Particularmente, porque é uma evidência e prova de uma teoria: o mundo dos símbolos arquetípicos. É como se no inconsciente da raça estivessem gravadas as imagens gráficas representativas das Idéias Fundamentais próprias de seu desenvolvimento.
Estas imagens aparecem às vezes no mundo dos sonhos, porém podem ser possuídas através da experiência direta dada pela meditação.
Na meditação objetiva o plano da ação está fora de nós; eu sou o sujeito e o objeto. Há um fluir de forças de mim para ele. Na concentração subjetiva eu sou o objeto-sujeito, eu sou a ação. A experiência subjetiva é total. A meditação transcende o simples exercício, é um estado vital do ser.
A elevação subjetiva, ao invés de ser um movimento para fora, como um pedido, é um tomar consciência na profundidade da alma e afundar-se num recolhimento muito profundo. Todo movimento é dualidade. O estado subjetivo é simples; se há movimento é um movimento em si.
Em realidade faz falta uma nova linguagem. A linguagem comum expressa estados passivos, objetivos; mas não há qualificativos para estados passivos, negativos, subjetivos e subconscientes. Dali a impossibilidade de definições precisas. Tal vez a comunicação terá que transcender a expressão verbal para fazer-se uma interpretação de estados que permita a compreensão por similitude.
Santiago Bovisto.

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