QUAL A RELIGIÃO VERDADEIRA?
Tantos foram os caminhos religiosos inventados e escolhidos pelos homens que, no final das contas, passaram a pairar no ar estas perguntas para muitos embaraçosas:
“Afinal de contas, qual é a religião verdadeira? Devo seguir Krishna, Buda, Maomé ou Jesus? Qual destas crenças é mais agradável a Deus?”
A resposta para todas elas é tão simples que o olhar aguçado da Esfinge nem se importa com elas. Ela não se importa com detalhes insignificantes. O que vimos é que, ao longo dos milênios, sucessivos credos predominaram junto a outros menos em voga, mas, de uma certa forma, aprenderam a conviver juntos, seja pelos costumes, seja pela força das leis. Os credos outrora predominantes também tiveram de ceder lugar a outros que lhes passaram a frente e foram mais do gosto popular. Foi assim que uma fila interminável de “ismos” deu muitas vezes a volta ao mundo, embora nem por isso estejamos, em nosso tempo, diante de uma humanidade mais consciente de sua condição religiosa.
A religião, proveniente do verbo latino religare, é sinônimo de religação com Deus. Cada credo, portanto, é um tipo de ioga e cada uma dessas iogas tem suas peculiaridades próprias. Cada um se liga a Deus como bem entende e disso não se pode fugir. Usando de seu livre arbítrio, o homem adota alguma religião (ou nenhuma) de acordo com aquilo que ele chama de “consciência”. Para estar em paz consigo mesmo o homem se aproxima de Deus ou se afasta por completo da Divindade. Ele adotará a decisão mais cômoda, a que lhe trouxer maiores vantagens ou fize-lo caminhar melhor.
Voltemos à pergunta inicial:
“Qual a religião verdadeira, se há tantas?”
Respondendo a essa indagação de uma forma mais ampla podemos afirmar que todas as religiões, mesmo as mais primitivas, são verdadeiras desde que professadas com o coração. Em outras palavras, se a sua religação com a Divindade for sincera isto é tudo que se faz necessário para que ela renda frutos eternos e mensuráveis na coluna do mérito pessoal.
Há, contudo, uma tendência muito humana de considerar o seu credo como o predileto de Deus ou o mais certo, como se o Pai Eterno tivesse algum interesse nesta ou naquela forma de reverenciá-lo. Foi este pequeno, mas importante, detalhe que deu origem às “guerras santas” de todas as épocas e que dividiu os religiosos em múltiplas “trincheiras” místicas.
A interpretação humana das revelações divinas gerou as mais acirradas polêmicas e todos passaram a achar que a sua interpretação era a mais certa. A História demonstra, no entanto, que existe um profundo abismo entre aquilo que o primeiro profeta pregou e aquilo que seus discípulos passaram a dizer depois do seu desaparecimento. A tal ponto a passagem da informação sofreu distorções que o resultado final, ao longo do tempo, foi a adoção de verdadeiros monstrengos doutrinários, alguns deles refletindo a fina flor do fanatismo religioso.
A dura verdade é que, com raras exceções, cada um defende o seu metro conquistado de terreno religioso e todos procuram puxar a brasa para a sua sardinha. Uns acham-se melhores do que os outros, ainda que não o digam ou não o revelem em voz alta. Cada um enaltece a sua fonte religiosa, achando que ela é a única verdadeira e confiável. Cada um tem o seu mestre, o seu guru ou a sua sociedade religiosa. Ao ouvirem falar em outros credos ou em outros gurus essas pessoas, apenas e quando muito, os toleram, sem perceber que o verbo tolerar é infinitamente ofensivo, porque infere aceitar com reservas.
Temos observado este fenômeno em todas as camadas sociais, independente de raça, faixa etária ou condição financeira. O kardecista abraça-se aos seus amigos espirituais e coloca um aviso na porta dizendo quem pode ou não pode entrar para fazer parte do seu grupo de preces, estudos ou incorporações. O umbandista e o candombleseiro agarram-se freneticamente aos seus orixás e acham que nada diferente deles pode ser aceito como verdadeiro, autêntico e forte. O muçulmano agarra-se ao balandrau bordado do seu Alá e considera “infiéis” todos que não lerem pela cartilha do Alcorão. O católico, agarrado ao cálice da Eucaristia e ao êxtase de receber sobre a língua o corpo de Cristo acha que tudo que fique fora disso é superstição, crendice ou desinformação mística. O Xamã só aceita as suas poções estupefacientes para falar com Deus e o esotérico fanatizado só vê no contato com o Mundo Interior ou o Plano Astral a forma legítima de evoluir na direção da Luz.
Todas as religiões, no entanto, são apenas formas de caminhar. Muitos ainda não se deram conta disto. Caminham de um modo todo seu, mas acham que todos deviam caminhar com eles. Querem, sem confessá-lo, o monopólio de Deus e até sentem pena dos que ainda estão “extraviados” em busca de uma Verdade que eles julgam haver conquistado até então pelo caminho escolhido.
Se o leitor quiser ouvir uma verdade dura de escutar e de aceitar fique atento a isto:
Todas as religiões são verdadeiras e, ao mesmo tempo, não são, porque nenhuma delas tem a oferecer senão um fragmento, às vezes grande, às vezes diminuto, da VERDADE.
Cada religião é uma espécie de janela por onde o membro olha o mundo e seus habitantes. Uma só janela, no entanto, seria insuficiente para nos oferecer uma visão completa, quase completa ou mais ampla do mundo. Convido os leitores a fazerem isso com as janelas de suas próprias casas para terem uma idéia melhor do que desejamos lhes passar com esta comparação. A realidade do mundo em que vivemos e de todos os mundos ainda desconhecidos é tão ampla que não pode ficar contido no quadrilátero de uma só e limitada janela. Há realidades embaixo, em cima, para os lados e para além das montanhas. Se qualquer leitor se contentar apenas com isso, tanto melhor para ele! Mas, se for do tipo que quer sempre saber mais, nesse caso é melhor sair da janela e ir para o terraço do edifício ou se tornar companheiro da caixa d´água, onde a visão é mais ampla. E de janela em janela de terraço em terraço o(a) leitor compreenderá que as paisagens são infinitas e que, a exemplo delas, a VERDADE também o é e se apresenta de múltiplas formas, porém nunca completas.
Reconhecendo a pequenez do nosso intelecto para apreender essa ciclópica VERDADE de um só gole, foram estas as palavras de ISAAC NEWTON:
“A mim mesmo pareço, apenas, um menino que brinca na beira da praia,
ora achando um pedra, ora uma concha mais formosa, sem perceber, enquanto isso, que o GRANDE OCEANO DA VERDADE se estende, desconhecido, diante de mim”.
E é imenso esse oceano! Muito mais vasto do que sonhamos mesmo em nossos momentos de mais fértil imaginação! Cada credo, mercê do merecimento de quem o organizou e reuniu adeptos traz nas mãos trêmulas um fragmento da Verdade, mas essa pequena porção não pode ser tomada como o Todo. A captação desse Todo seria muito forte para nossos ainda pobres e insuficientes neurônios. Para abraçar e digerir uma porção maior dessa Verdade tão fragmentada teríamos de viver muitas vidas, de cada uma delas guardando todos os alicerces e todos os patamares anteriores.
Há, no homem, a tendência de complicar as coisas. Ele costuma tornar complexo o que é simples. Mete-se a ler e a consultar “sábios” de fancaria, transformando-se num poço de informações desconexas a respeito do que é ou do que pode vir a ser DEUS. Ouvir certas pessoas dissertarem sobre Deus é quase como ouvir uma anedota hilariante sem poder rir dela, porque seria falta de respeito. É absolutamente incrível o que essas pessoas dizem, o que essas pessoas concluem e – o que é pior!- o que essas pessoas criam nas cabeças desavisadas.
A religião verdadeira é PURO AMOR. Não importa que nome tenha, quem seja o seu guru ou onde fique o seu templo. O altar do coração é o único altar digno de uma reverência mais profunda, pois DEUS É AMOR e diante desse AMOR todo o religioso verdadeiro se curva. Quando pedimos a bênção a um sacerdote, a um pai-de-santo ou a um homem de grande luz não nos estamos humilhando diante de um homem qualquer, mas de alguém que se tornou um prolongamento do AMOR e que, portanto, tornou-se uma ponte de ligação entre nós e um Deus que ainda desconhecemos tanto do lado de dentro quanto do lado de fora.
Há, infelizmente, um pouco de vaidade nos religiosos comuns. Eles adoram o seu credo e só aceitam os demais credos como degraus inferiores para chegarem aonde já se encontram. Esse sentimento de superioridade é que põe tudo a perder diante de Deus, pois, se Deus aceita todos os nossos modos de caminhar e abençoa todos os nossos passos, que direito temos nós, reles seres humanos, de condenar a trilha de nossos outros irmãos? Que certeza temos de estarmos realmente no verdadeiro caminho? Nosso irmão mais humilde, seguindo uma religião mais primitiva, não estará melhor situado no conceito de Deus do que nós com toda a nossa pompa e convencimento? O que será que Deus está lendo em cada um de nós? O nome de nossas igrejas? O rótulo místico que ostentamos? O esoterismo de nossos rituais? As flores que ornamentam nossos altares? Ou será que Ele está vendo tão somente o que está escrito em nossos corações? Estará o olhar de Deus voltado para o templo que freqüentamos ou para aquilo que aprendemos em palestras, aulas e leituras? O olhar de Deus só vê intenções e propósitos secretos. Ele não perde tempo com aparências, com vestimentas exóticas ou balandraus crísticos. Não quer saber se somos bons médiuns nem vive a contar nossos delitos diários. Ele nos examina como um todo, mas termina seu exame pela contemplação do que levamos no coração. HERMÓGENES disse isto muito bem num de seus mais inspirados pensamentos:
“Examina as tuas bondades: pode ser que não sejam tão boas. Examina as tuas maldades: pode ser que não sejam tão más.”
DEUS dispõe de toda uma Hierarquia para marcar a Sua presença na Terra. Essa hierarquia é como um desdobramento Seu numa miríade de trabalhadores anônimos que O representam em todos os credos. Todos, em conjunto, trabalham em prol da Grande Obra. Para construir o Grande Edifício da Verdade haverá sempre muitos andaimes onde laboram os operários da Luz. Como se trata de uma construção importante, todos os andaimes (religiões) têm um papel importante a desempenhar. No entanto, quando a construção estiver pronta, todos os andaimes desaparecerão ofuscados pelo brilho da Verdade construída. A partir desse momento eles não precisarão mais existir e todos os operários, visíveis e invisíveis, estarão orando em torno do monumento único que eles mesmos erigiram com o sacrifício de seus corpos e de suas almas.
Pense bem na imagem que acabamos de lhe dar, caro(a) leitor(a). Contribua com o seu tijolo de amor para a construção dessa Grande Obra. Seja um obreiro humilde e anônimo. Não deixe que os elogios, mesmo sinceros, conspurquem o seu ego. Diga sempre que nada fez e que tudo que pareceu ter sido feito por você foi, apenas, a vontade do Pai materializada através de suas pequeninas mãos.
E com isto fechamos tudo que queríamos dizer até agora. Nenhuma religião é verdadeira e nenhuma religião é falsa. Todas se engrandecem quando professadas com AMOR. E todas desmoronam quando calcadas no cálculo e na ganância. Os homens fazem as religiões, mas as religiões não fazem os homens. Nenhuma religião salva ou condena o homem. Ele é que, com seus atos e pensamentos, se salva ou se condena. Sofre os efeitos praticados. Recebe de volta o que semeou. Quem já descobriu isto usa com muita parcimônia a palavra “pecado” e bane da alma a imagem de um Deus rancoroso, sensível e temperamental como aquele que nos foi pintado pelos exageros do Antigo Testamento. Com a mesma facilidade esse Deus deixará de ser antropomórfico como os deuses gregos, romanos e escandinavos e muito mais reconhecido como ENERGIA do que como cópia xerox do ser humano. A imagem e semelhança de que nos fala o Livro da Gênese não se refere ao soma nem ao pensamento humano, mas à energia que nos move ao longo das repetidas vidas de que precisamos para nos identificarmos novamente com a Divindade.
No entanto, jamais deveremos criticar os que só podem aceitar um Deus antropomórfico. Esse talvez seja o único Deus em que essa pessoa acredita. Não nos cabe torpedear a lenda e, com isso, desmoronar uma estrutura mística ainda que equivocada. O que será dessa pessoa desencantada, caso lhe retiremos aquilo em que ela crê? Ela será melhor depois da nossa revelação? No vazio da sua alma, na qual mergulhamos como tratores e pás carregadeiras, que coisa poderemos colocar para substituir sua antiga fé? Nossa intervenção irá fazer dela uma criatura melhor ou pior? Se não tivermos nada para construir em cima das ruínas por nós mesmos provocadas por que provocar essa implosão? Que contribuição teremos dado a esse pobre ser, se quem se tirou, em nome de uma Verdade duvidosa, o direito de crer a seu modo?
A religião dos mais simples é tão verdadeira quanto a sua, que é mais complexa. E a religião, seja ela qual for, será tanto mais verdadeira quanto mais ela contiver o tempero do coração. Deixe, portanto, os simples seguirem suas crenças simples e siga você a sua crença mais complexa. Ambos estarão sendo ouvidos pela mesma Realidade e ambos estarão trabalhando em seus respectivos andaimes para a construção do Grande Edifício da Verdade.
Qual é, portanto, a única religião verdadeira, se há tantas? A única religião verdadeira se chama AMOR e fora dele não há salvação. Meditem bem sobre isto. Quando Cristo disse “EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA” ele, na verdade, estava dizendo “EU SOU O AMOR”, porque é o AMOR que plasma os caminhos, é o AMOR que nos traz a Verdade e por AMOR ganhamos esta e todas as vidas.
Sheik Al-Kaparra
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