Por favor, preencha a atmosfera com a vibração sublime dos Santos Nomes:
Hare Krsna Hare Krsna Krsna Krsna Hare Hare Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A Coragem para ser Feliz




A Coragem para ser Feliz
OSHO


      Continuamos a perder muitas coisas na vida só por causa da falta de coragem. Na verdade, nenhum esforço é necessário para conquistar – só é preciso coragem – e as coisas começarão a vir até você, em vez de você ir atrás delas. Pelo menos no mundo interior é assim.
      E para mim, ser feliz é a maior coragem. Ser infeliz é uma atitude muito covarde. Na realidade, para ser infeliz, não é preciso nada. Qualquer covarde pode ser, qualquer tolo pode ser. Todo mundo é capaz de ser infeliz; para ser feliz é preciso coragem – é um risco tremendo.
      Não temos o costume de pensar assim. Nós pensamos: “ O que é preciso para ser feliz? Todo mundo quer ser feliz.” Isso está absolutamente errado. É muito raro uma pessoa estar pronta para ser feliz – as pessoas investem tanto na infelicidade! Elas adoram ser infelizes. Na verdade, elas são felizes por serem infelizes.
      Há muitas coisas para se entender – sem entendê-las é muito difícil se livrar da mania de ser infeliz. A primeira coisa é: ninguém está prendendo você; é você que decidiu ficar na prisão da infelicidade. Ninguém prende ninguém. O homem que está pronto para sair dela, pode sair quando quiser. Ninguém mais é responsável. Se uma pessoa é infeliz, é ela mesma a responsável. Mas a pessoa infeliz nunca aceita a responsabilidade – é por isso que continua infeliz. Ela diz: “ Estão me fazendo infeliz” .
      Se outra pessoa está fazendo com que você seja infeliz, naturalmente não há nada que você possa fazer. Se você mesmo está causando a sua infelicidade, alguma coisa pode ser feita... Alguma coisa pode ser feita imediatamente. Então ser ou não ser infeliz está em suas mãos. Todavia as pessoas ficam jogando nos outros a responsabilidade – às vezes na mulher, às vezes no marido, às vezes na família, no condicionamento, na infância, na mãe, no pai... Outras vezes na sociedade, na história, no destino, em Deus – mas não param de jogar nos outros. Os nomes são diferentes, mas o truque é sempre o mesmo.
      Um homem torna-se realmente um homem quando aceita a responsabilidade total – é responsável pelo quer que seja. Essa é a primeira forma de coragem, a maior delas. É muito difícil aceitá-la porque a mente vai continuar dizendo: “Se você é responsável, porque criou isso?”. Para evitar isso, dizemos que os outros são responsáveis: “O que eu posso fazer? Não tem jeito... sou uma vítima! Sou jogado daqui para ali por forças maiores que eu e não posso fazer nada. Posso no máximo chorar porque sou infeliz e ficar ainda mais infeliz chorando”. E tudo cresce – se você cultiva uma coisa, ela cresce. Então você vai cada vez mais fundo... Mergulha cada vez mais fundo.
      Ninguém, nenhuma outra força, está fazendo nada a você. É você e só você. Isso resume toda a filosofia do karma – que é o seu fazer; karma significa ‘fazer’. Você fez e pode desfazer. E não é preciso esperar, postergar. Não é preciso tempo – você pode simplesmente pular fora disso.
      Mas nós nos habituamos. Se pararmos de ser infelizes, nos sentiremos muito sozinhos, perderemos nossa maior companhia. A infelicidade virou nossa sombra – nos segue por toda a parte. Quando não há ninguém por perto, pelo menos a infelicidade está ali presente - você se casa com ela. E trata-se de um casamento muito, muito longo; você está casado com a sua infelicidade há muitas vidas.
      Agora chegou a hora de se divorciar dela. Isto é o que eu chamo de a grande coragem – divorciar-se da infelicidade, perder o hábito mais antigo da mente humana, a companhia mais fiel.

OSHO, The Buddha Disease, # 27

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Excesso e Leveza (Crônicas do Frank)







"Sonhei com Oxum e ela perguntava: - Onde estão os presentes que eu te entreguei?

- Não sei, Grande Mãe - eu respondia, sem notar que os presentes se espalhavam, perdidos e jogados, pelo chão..."

Esses dias, comprei outro livro, uma outra revista, que não vou ler inteiro, que não vou ver inteira, mas comprei assim mesmo, vai que seja necessário, vai que seja preciso.

Cheguei em casa e coloquei os livros em cima da estante dos livros esquecidos, outros tantos que nunca receberam o milagre da minha atenção, além daquele momento efêmero no passado, quando os comprei por acreditar que os leria de fato.

Cheguei até a abrir a revista, ler a primeira página, mas havia uma outra revista que me interessava, e uma outra, outra outra...

Que coisa mais boa é ter condições de pagar a nossa educação e investir em nossa informação, tendo a nossa disposição, todo esse conhecimento que muita gente, lá atrás, teve que fazer juramento de vida ou morte, só para ver uma parte, só para ver qualquer parte, parte daquilo que hoje, deixamos jogado pelo chão.

Qual o valor do conhecimento, meu irmão?
A sua atenção! A sua atenção!

Tudo em excesso faz virar a mesa, a prosperidade vira obesidade quando o que recebemos já não satisfaz e passamos a querer extrair mais e mais; sem aproveitar o processo, sem prestar atenção na beleza do caminho.

Qualquer coisa vira obsessão, meu irmão, até mesmo querer saber mais em vão.

Daí, o universo passa a lição e eu que vejo em tudo uma chance de obter mais informação, vinha vindo por uma rua dessas, mais com pressa do que contente, e meu pé torceu e parte dele ficou doendo, o que me levou a prestar atenção a um saco de lixo cheio de livros, muitos quais eu sempre quis encontrar para comprar.

Era uma maldição e um milagre, ao mesmo tempo, pois enquanto a dor me obrigava a cuidar do pé, aquele saco de livros abandonados queria que eu os levasse para casa, porém, que saco plástico pesado!

Fui arrastando o saco com os livros, mesmo assim, mesmo sentindo que a cada passo, aquele saco de livros pesava muito mais em mim, aumentando o peso sobre meu pé e que seria melhor deixar aquele saco em algum lugar, lugar qualquer, mas parte de mim dizia: "carregue, tem muita coisa aí que você precisa saber! Esses livos foram colocados ali para você."

Será?

A riqueza mora na consciência de que é preciso apreciar o que se tem, e às vezes, é preciso cortar o excesso ou mesmo parar de querer mais - ACUMULAR - para conseguirmos ver todo o resto que passou desapercebido e deixamos para trás.

Mas eu precisava daqueles livros...

Daí, tentei achar um taxi, parar um ônibus, estilingar algum helicoptero, qualquer veículo que pudesse me levar dali com os meus livros, mas quando mais eu me arrastava com aquele saco pesado e com o pé dolorido, mais eu parecia estar perdido; e estava, pois ao ver um desses homens com aquelas carroças "Cata-Tudo" vazia, surgir à minha frente, eu percebi o que estava se apresentando de verdade e qual lição eu deveria aprender com o meu pé dolorido e aquele saco de livros.

Respirei fundo e olhei mais uma vez para o saco cheio de livros, mas segui em frente no que meu instinto me dizia, e parei o homem cata-tudo e disse:

- Moço, eu tenho aqui um saco cheio de livros. É seu ! - disse entregando - Esses livros valem uma grana, vá até um desses sebos e o senhor vai ganhar uns trocados.

O homem do cata-tudo, com o olhar surpreendido, viu os livros e voltou o seu olhar para mim e disse: - Vou vender não, senhor! Eu tomo conta da biblioteca lá da comunidade e esses livros vão fazer a alegria da molecada de toda idade que passa lá para ler ao invés de ficar por aí fazendo bobagem! Brigado!!!

Enquanto observava o homem cata-tudo indo embora pelas ruas do Itaim, percebi que o meu pé já não mais doía...


Frank Oliveira
cronicasdofrank.blogspot.com

terça-feira, 20 de setembro de 2011

A Árvore da Vida



Por Renato Giannico


Toda manhã que levantamos para construir um novo dia, de todos os pensamentos que temos e de todas as ações que praticamos o que é que vamos deixar para as gerações futuras? Como estamos arando e semeando o solo do novo mundo?

Se lembrássemos disto todas as manhãs, ou quando fossemos escolher aquela profissão que nos motivou no vestibular, ou aquele empreendimento que dedicamos tanta força e empenho, seríamos mais felizes, sem fazer muitos cálculos e estudos, seríamos mais justos e verdadeiros. Então, eu como também estou lendo este artigo vejo que sempre poderia fazer mais, me espelhando na natureza que vive em harmonia com si só.

“Pelos seus frutos os conhecereis”, dizia um dos discípulos de Jesus. Afinal, somos criaturas e criadores.

Sou uma árvore composta de raízes, tronco e copa.

Alimento-me dos meus próprios frutos que caem ao redor, se é boa, minha terra fica fértil, se são frutos podres, minha terra fica tóxica e entro em um ciclo vicioso.

Sirvo de casa e alimento para muitos da natureza, mas se não souber quem está nesta minha casa sagrada, sou tomado e destruído, adoeço e perco a força.

Sinto-me forte e rígido, mas às vezes, os mais suaves ventos me balançam, penso que vou cair e perco alguns galhos e folhas.

Quero estar com a minha copa sempre cheia e cada vez maior, mas me esqueço que posso tombar se minhas raízes não estiverem firmes.

Olho para alguns galhos e vejo que estão firmes e sadios, mas estão sem flores, então aprendo a lei essencial da natureza: paciência, onde tudo tem o seu tempo.

Outros galhos estão secos e quase mortos quando poderiam estar cheios de frutos e flores. Fico triste e sei que poderia fazer mais.

Tenho o dom de semear e ser semeado, transformar e ser transformado.

Tenho nas minhas raízes os meus ancestrais, que me colocaram neste solo, e na minha copa tenho os meus sonhos e ideais.

Sou uma árvore que vive só e ao mesmo tempo junto com outras milhões iguais.

Sou uma árvore que busca crescer, expandir, ser firme e rígida para não cair, mesmo que o solo fraqueje e o tempo não favoreça.

Eu Sou a Árvore da Vida.

Desejo que você reconheça os teus galhos floridos e os secos também, e com toda a vida que existe nesta natureza sagrada, desejo sua árvore cheia de flores e bons frutos que semearão os solos deste mundo. E que lindas flores possamos colher nesta primavera que se inicia. Tempo de vida e renascimento. Que possamos refletir como anda esta nossa árvore da vida e os frutos que nela nascem.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Sadhu!


Sadhu
Sadhu, no hinduísmo, é um termo comum para designar um místico, um asceta, um praticante de ioga ou um monge andarilho. "Sadhu!" é também uma expressão em sânscrito e pali, usada como interjeição para algo bem sucedido ou realizado com perfeição.


Etimologia

A tradução para sädhu é bom homem e para sädhvi é boa mulher que se refere a quem tem a escolha de viver a vida em sociedades em foco para sua prática espiritual. A origem da palavra vem de sädh, que significa "alcançar objetivos". A mesma origem é usada na palavra sädhana, que significa "prática espiritual".


Rituais

Sadhus são sanyasi, ou renunciantes, que deixam todo seu material ou materiais sexuais e moram nas cavernas, florestas e templos por toda Índia e Nepal. A Sadhu é referido como Baba pelas pessoas comuns. A palavra baba também signifca pai, avô, ou tio em muitas linguas indianas.

Sadhus
J. R. Araújo
  
As escrituras sagradas da Índia, os Vedas, compreendem um maravilhoso complexo literário com o propósito de orientar as pessoas em suas condições de vida. Nelas encontramos referências religiosas, ritualísticas, éticas, leis e mandamentos, além de seu aspecto mais importante, espiritual. Não há, nos Vedas, uma orientação exclusivista. Entendendo a diversidade inerente ao ser humano, dedica diferentes caminhos que presenteiam àqueles no progresso espiritual detentores das mais variadas tendências psicológicas, culturais e condições de vida. Os Vedas são a Grande Carta Orientadora para a humanidade como um todo. Não seriam os Vedas suficientes, se não estivessem lastreados pelo exemplo vivo daqueles que seguem seus ensinamentos, perseguem sua Verdade. 


Entre os buscadores da Verdade, entre aqueles que trilham o Caminho, e que se esforçam em alcançar o objetivo último, existe uma classe bastante curiosa e que constitui o que há de mais tradicional entre os candidatos ao objetivo espiritual último. Não importa que tenham chegado a esse objetivo ou ainda se esforcem na disciplina, os sadhus, entretanto, formam essa classe à parte, entre os transcendentalistas. O próprio termo sânskrito “sadhu” é bastante rico e significam adjetivos tais como agradável, bom, bondoso, compassivo, correto, decente, disciplinado, eficiente, excelente, gentil, honesto, honrado, nobre, obediente, pacífico, puro, respeitável, reto, virtuoso. A raiz “sadh” forma o verbo sadhati usado no sentido de conquistar, vencer, ser bem sucedido. Como substantivo refere-se primariamente a homem santo, sábio, vidente. São ascetas austeros, seguidores dos diversos sistemas de yoga, meditação e práticas religiosas e espirituais. Diferentemente dos outros transcendentalistas, não habitam mosteiros ou ashrams e se vestem com o mínimo ou quase nenhuma roupa. Uma classe, entretanto, os nagas  vivem  inteiramente  nus.


Como mencionado acima, os sadhus não vivem em ashrams ou mosteiros. Freqüentemente eles moram em cavernas nas montanhas, nas florestas ou em cabanas improvisadas nas margens dos rios sagrados. Vivem sozinhos, mas quando viajam ao kumbha-mela, o fazem em grupo, o qual vai crescendo à medida que outros se juntam ao longo da viagem, sempre a pé.


Nessas ocasiões, dependem inteiramente da doação de alimentos que recebem das pessoas, nas cidades, aldeias e vilas por onde viajam. Quanto à doação aos sadhus, por parte da população em geral, “não existe um sentimento de pena ou de caridade fútil, mas o de uma obrigação para com aqueles que já iniciaram a inevitável busca, a trilha pelo auto aperfeiçoamento o qual deve ser um exemplo a ser seguido, um dever e obrigação dos que ainda permanecem na vida familiar”.


 
 
Os kumbha-melas são os grandes encontros de sadhus, as grandes assembléias que ocorrem em intervalos de três anos. Kumbha significa pote ou jarra e mela quer dizer um evento para peregrinos. Existem quatro kumbha-melas: em Prayag, Haridwar, Uijain e Nasik. A origem desses eventos perde-se no tempo e são descritos nas escrituras.
  

Quando Júpiter está no signo zodiacal de Touro (Vrishaba Rashi) e o Sol em Capricórnio (Mukha Rashi) é chegada à ocasião do maha-kumbha-mela (Grande Kumbha-mela), que ocorre nos meses de Janeiro - Fevereiro a cada intervalo de doze anos, em Prayag, próximo a Allahabad, na confluência dos três mais sagrados rios da Índia: o Yamuna, o Saraswati e o Ganges, sendo a maior concentração religiosa do planeta, com uma afluência de mais de trinta milhões de pessoas, entre swamis, babajis, sadhus, munis, rishis, siddhas, prabhus, yogis e peregrinos seguidores das inumeráveis Religiões e Filosofias da Índia com suas imensas variedades de escolas, ramificações e seitas. Um evento onde todos se beneficiam, onde existe a troca de ensinamentos, aprendizados e purificação. Após esse acontecimento, os sadhus retornam em grupos para as florestas, as montanhas ou às margens dos rios, de onde saíram.


A visão de um sadhu se nos parece bastante exótica e pode chocar alguns de nós, com nossa maneira ocidental de pensar e avaliar. Por isso mesmo, um sadhu está em flagrante oposição a tudo que o Ocidente cultiva: desde o conceito corpóreo até o apego exacerbado às coisas materiais, relacionadas ao corpo, tais como fama, sucesso, prestígio, prazeres, prazeres, prazeres. . . Simbolizam o que há de mais extremo em matéria de renúncia, o limite onde a sanidade ainda persiste não contaminada pela autodestruição.


Embora sejam muito pobres e humildes, há uma incomparável nobreza que emana dos sadhus. Apesar de viverem como mendicantes, não são simplórios; são, em sua grande maioria, eruditos e filósofos muito sofisticados, verdadeiros exemplos vivos das variadas e complexas vertentes filosóficas das Escrituras Sagradas. Irradiam uma beleza interior raramente observada, fruto de constante meditação, renúncia, desprendimento e de suas práticas espirituais.


Deles emanam uma irrepreensível serenidade, uma paz e uma imperturbável certeza, só encontrada naqueles que atingiram desprendimento até de seus próprios egos. Ao mesmo tempo deles se pode verificar uma atitude de notável dignidade e nobreza sem qualquer traço de arrogância e vaidade pessoal. Demonstram superioridade, sem a menor pretensão de sê-lo.  Demonstram conhecimento, mesmo na aparência de simplicidade. Uma força que só a energia espiritual pode  proporcionar.




sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Cachalote


Cachalote
O cachalote (Physeter catodon dos termos gregos physao (soprar) e cata (base) + odon (dente),também Physeter macrocephalus) é a maior das baleias com dentes bem como o maior animal com dentes actualmente existente, medindo até 18 metros de comprimento. Esta baleia tem como característica distintiva o facto de possuir na cabeça uma substância cerosa de cor leitosa, o espermacete. A enorme cabeça e a forma distintiva do cachalote, bem como o seu papel na obra Moby Dick de Herman Melville, levaram muitos a descreverem o cachalote como o arquétipo de baleia por excelência. O cachalote foi caçado nas águas dos arquipélagos portugueses da Madeira e Açores até 1981 e 1984 respectivamente.


Etimologia e história taxonómica
A etimologia da palavra cachalote não é clara, parecendo ter origem em cachola, termo coloquial usado para designar cabeça, no termo gascão cachau (dentes grandes) ou ainda no termo catalão quitxalot. A sua designação em língua inglesa, sperm whale, é uma contracção de spermaceti whale (baleia de espermacete). O cachalote foi categorizado pela primeira vez por Lineu, que em 1758 reconheceu quatro espécies no género Physeter. Porém, não passou muito tempo até que os peritos concluíssem que constituíam uma única espécie. A maioria das publicações modernas classifica o cachalote como a única espécie da família Physeteridae (e como tal a única espécie no seu género). A família do cachalote é por vezes tratada como uma superfamília Physeteroidea. Esta superfamília contém apenas mais duas espécies - o cachalote-pigmeu e o cachalote-anão. Estas duas espécies pertencem à família Kogiidae.
No entanto, Mead e Brownell listam estas três espécies na família Kogiidae, designam o cachalote Physeter catodon e dispensam a superfamília.
Crê-se que o cachalote divergiu das outras baleias com dentes nos primeiros tempos da evolução da subordem - há cerca de 20 milhões de anos.

Anatomia e morfologia
O cachalote é excepcional pela sua grande cabeça, sobretudo nos machos, correspondendo tipicamente a um terço do comprimento total do animal. Um dos nomes dados a esta espécie (macrocephalus) deriva do termo grego para cabeça grande. Contrastando com a pele suave da maioria das restantes baleias, a pele do dorso do cachalote apresenta geralmente protuberâncias. Apesar da sua cor uniformemente cinzenta, podem parecer castanhos à luz solar e há registos de cachalotes albinos brancos. O cérebro do cachalote é o maior e mais pesado de entre os cérebros de todos os animais (modernos ou extintos) conhecidos, pesando em média aproximadamente 7 kg num macho adulto.
O espiráculo situa-se muito próximo da zona frontal da cabeça e descaído ligeiramente para a esquerda, o que faz com que o sopro seja um tanto ramificado e inclinado para a frente. O cachalote não possui uma verdadeira barbatana dorsal, mas sim uma série de altos na zona caudal do dorso. O maior deles era chamado bossa pelos baleeiros e é muitas vezes confundido com uma barabatana dorsal devido à sua forma. A barbatana caudal é triangular e muito grossa.
Os cachalotes têm de 17 a 29 pares de dentes com forma cónica na mandíbula inferior, cada um com 8 a 20 cm de comprimento, podendo atingir os 25 cm e os 500 gramas de peso. Cada dente pode chegar a pesar 1 kg. Não existem certezas relativamente à razão da existência dos dentes, mas sabe-se que muitos machos de cachalote apresentam cicatrizes aparentemente causadas por dentes de outros machos. A mandíbula superior também apresenta dentes, mas estes raramente se encontram visíveis.
Os cachalotes encontram-se entre os cetáceos mais sexualmente dimórficos (isto é, machos e fêmeas são bastante diferentes). Os machos são tipicamente 30% a 50% mais compridos (14 a 18 metros) do que as fêmeas (12 a 14 metros) e são cerca de duas vezes mais pesados (50 000 kg versus 25 000 kg das fêmeas). No momento do nascimento tanto machos como fêmeas têm cerca de 4 metros de comprimento e um peso aproximado de 1 000 kg.
Em consequência da intensidade da caça a que foram sujeitos ao longo de muitos anos, o tamanho dos cachalotes diminuiu significativamente, sobretudo porque os machos maiores foram mortos primeiro e de modo mais intenso, pois tinham mais espermacete (o óleo de espermacete era bastante valioso nos séculos XVIII e XIX - ver abaixo). Num museu de Nantucket, Rhode Island, existe uma mandíbula de um cachalote com 5,5 metros de comprimento. A mandíbula constitui cerca de 20 a 25% de comprimento total do cachalote. Assim, a baleia a que pertencia esta mandíbula pode ter medido 28 metros de comprimento, pesando cerca de 150 toneladas. Uma outra evidência do maior tamanho dos machos de cachalote no passado encontra-se no museu de New Bedford, Massachusetts. Trata-se de uma outra mandíbula de um cachalote macho com 5,2 metros de comprimento, que corresponderia a um animal de cerca de 25,6 metros de comprimento e um peso próximo das 125 toneladas. Além destas duas evidências, livros de registos encontrados naqueles dois museus estão cheios de referências a machos que tinham, considerando a quantidade de óleo deles obtida, aproximadamente o mesmo tamanho que os dois exemplares antes descritos. Actualmente os cachalotes geralmente não excedem os 18 metros de comprimento e as 52 toneladas de peso. Os maiores cachalotes observados actualmente são de tamanho comparável ao da baleia-comum (e menores que a baleia azul), o que torna o cachalote a segunda ou terceira maior espécie animal viva.
O cachalote é o exemplo típico de uma espécie que se crê ter-se desenvolvido sob condições ambientais muito estáveis. Esta evolução relativamente "fácil" conduziu a uma taxa de natalidade baixa, maturação lenta e grande longevidade. As fêmeas dão à luz uma vez cada quatro a seis anos, com um período de gestação de pelo menos 12 meses podendo atingir mesmo os 18 meses. As crias são amamentadas durante dois ou três anos. Nos machos, a puberdade dura cerca de dez anos entre as idades de 10 e 20 anos. Os machos mantêm-se em crescimento até cerca dos 50 anos de idade, altura em que atingem o seu tamanho máximo. Os cachalotes podem viver cerca de 80 anos.

Espermacete e âmbar cinza
O espermacete é um substância cerosa encontrada na cabeça do cachalote. Este termo deriva do latim sperma ceti (com ambas palavras de origem grega) que significa esperma de baleia (ou mais exactamente esperma do monstro marinho). No entanto, o espermacete não é o esperma da baleia, mas foi erradamente identificado como tal pelos primeiros baleeiros. O espermacete é encontrado no órgão do espermacete à frente e por cima do crânio da baleia e também na parte frontal da cabeça acima da mandíbula superior. O espermacete é uma substância muito peculiar composta exclusivamente por ésteres e triglicéridos. O órgão do espermacete pode conter até 2 000 litros de espermacete.
Uma das funções do órgão do espermacete é servir como órgão de mergulho ou de flutuação. Antes do início de um mergulho, é aspirada água fria que passa pelo órgão do espermacete provocando a solidificação da cera. O aumento do peso específico gera uma força descendente (equivalente a 40 kg) permitindo que a baleia possa submergir sem esforço. Durante a perseguição das presas a grande profundidade (mais de 2 000 metros) o oxigénio armazenado é consumido e o calor produzido derrete o espermacete, o que permitirá a ascensão mais fácil do cachalote.
Existem outras hipóteses sobre possíveis funções do espermacete: uma delas e na qual se inspira a obra de Melville, é a possibilidade de o órgão de espermacete ter evoluído como um tipo de aríete para ser usado em lutas entre machos rivais. Esta hipótese é consistente com os afundamentos dos navios estado-unidenses Essex (1820) e Ann Alexander (1851) devido a ataques de cachalotes com peso estimado em cerca de uma quinta parte do peso dos navios. Para além de funcionar como aríete, o órgão do espermacete também tem de funcionar como amortecedor.
Outra possibilidade é a de que o órgão do espermacete é utilizado como auxiliar na ecolocalização. A forma do órgão poderá focar ou alargar o feixe de som emitido em qualquer momento, utilizando-o, inclusive, como resposta acústica a comportamentos de selecção sexual.
O espermacete era muito procurado pelos baleeiros durante os séculos XVIII, XIX e XX. Esta substância possui várias aplicações comerciais em óleos para relógios, fluidos de transmissão, lubrificantes de lentes fotográficas e instrumentos delicados usados em grandes altitudes, cosméticos, velas, aditivos em óleos de motor, glicerina, compostos antiferrugem, detergentes, fibras químicas, vitaminas e mais de 70 compostos farmacêuticos.
O âmbar cinza é uma concreção muito odorífera que se encontra no intestino de cerca de 5% dos indivíduos desta espécie, em quantidades que geralmente não ultrapassam os 10 kg. Coloca-se a hipótese de os bicos afiados dos cefalópodes ingeridos e alojados no intestino do cachalote poderem levar à produção do âmbar cinza, de modo análogo à formação das pérolas. É uma substância muito apreciada como espasmolítico e fixador de perfumes.

Respiração
Os cachalotes respiram ar à superfície da água através de um único espiráculo em forma de "S". O espiráculo está situado no lado esquerdo da parte frontal da cabeça. Respiram 3 a 5 vezes por minuto quando em repouso, aumentando esta frequência para 6 a 7 vezes por minuto após um mergulho. O sopro consiste de um único e ruidoso jorro de água que pode elevar-se até 15 metros sobre a superfície da água, apontando para diante e para a esquerda com um ângulo de 45º.


Mergulho

Os cachalotes, juntamente com os botinhosos, são os mamíferos capazes de mergulhar a uma maior profundidade. Crê-se que sejam capazes de mergulhar até profundidades da ordem dos 3 000 metros com duração do mergulho de até 90 minutos. No entanto, o mergulho típico atinge os 400 metros de profundidade e os 30 a 45 minutos de duração.
A fisiologia do cachalote apresenta algumas adaptações às mudanças drásticas de pressão que ocorrem durante os mergulhos. A caixa torácica é flexível, permitindo o colapso dos pulmões, e o ritmo cardíaco pode ser diminuído para aumentar o tempo de duração das reservas de oxigénio. O oxigénio é armazenado em tecido muscular através da mioglobina. Quando os níveis de oxigénio descem, o fluxo de sangue pode ser dirigido apenas para o cérebro e órgãos essenciais. O órgão do espermacete parece também estar envolvido no mergulho.
Apesar de bem adaptados ao mergulho, a repetição de mergulhos a grandes profundidades parece ter efeitos a longo prazo sobre os cachalotes. Os esqueletos de cachalotes evidenciam destruição de tecido ósseo que, em humanos, é muitas vezes um sinal de doença de descompressão. Os esqueletos dos cachalotes mais velhos evidenciam uma destruição mais extensa, enquanto que as crias de cachalotes não apresentam quaisquer danos no tecido ósseo. Estes danos podem indicar que os cachalotes são susceptíveis à doença de descompressão, e a emersão repentina pode ser-lhes fatal.
Entre mergulhos, o cachalote vem à superfície para respirar, mantendo-se mais ou menos imóvel por oito a dez minutos antes de iniciar novo mergulho. Devido às grandes profundidades atingidas durante o mergulho, os cachalotes podem por vezes afogar-se quando ficam presos em cabos submarinos.


Alimentação

Um fragmento de pele de cachalote exibindo cicatrizes de ferimentos provocados por ventosas de lula-gigante.
Os cachalotes alimentam-se de várias espécies, em particular lula-gigante, potas, polvo e vários peixes como raias, mas principalmente de lulas de tamanho médio. Praticamente tudo o que se sabe sobre as lulas que vivem a grande profundidade foi descoberto a partir de exemplares encontrados nos estômagos de cachalotes capturados.
As histórias sobre batalhas titânicas entre cachalotes e lulas-gigantes que se crê atingirem até 13 metros de comprimento são, talvez, demasiado fantásticas, pois mesmo as maiores lulas-gigantes não pesam mais de 300 kg, em contraste com as várias toneladas de peso dos cachalotes caçadores mais jovens. Porém, pensa-se que as cicatrizes esbranquiçadas nos corpos de cachalotes são causadas por lulas. À medida que as populações de peixes de grande profundidade se tornam escassas devido à sobrepesca, as lulas gigantes são cada vez mais uma parte importante da dieta dos cachalotes.
O roubo de peixe-carvão-do-Pacífico e de merluza-negra de palangres levado a cabo por cachalotes é bem conhecido e está documentado, sobretudo no Golfo do Alasca. Acredita-se que este hábito é aprendido e passado a outros cachalotes dentro de um mesmo grupo ou às crias. Porém, a quantidade de peixe assim obtida é muito pequena quando comparada com as necessidades diárias de um cachalote.
Os cachalotes são comedores prodigiosos, podendo comer cerca de 3% do seu peso diariamente. O consumo anual total de presas pelos cachalotes em todo o mundo está estimado em 100 milhões de toneladas - um número superior ao consumo humano anual total de animais marinhos.


Predadores

Além dos seres humanos, apenas outro predador ataca os cachalotes: a orca. Grandes grupos de orcas atacam frequentemente grupos de cachalotes fêmea, com as crias, tentando geralmente isolar as últimas com intenção de as capturar. As fêmeas conseguem, grande parte das vezes, repelir estes ataques formando um círculo em redor das crias e batendo as barbatanas caudais, de forma a evitar a entrada de qualquer orca na formação. Se o grupo de orcas for muito grande, até as fêmeas adultas podem ser mortas. Os grandes cachalotes macho não têm predadores.


Organização social

O cachalote é uma espécie extremamente social. As fêmeas adultas formam grupos sociais, com juvenis e crias, distribuídos pelas águas tropicais e subtropicais. Os machos abandonam a sua família de origem cerca dos seis anos de idade, deslocando-se para latitudes mais altas, onde crescem geralmente em associação com outros machos imaturos. Quando se tornam sexualmente activos, cerca dos 25 anos de idade, abandonam os seus grupos de solteiros e tornam-se solitários. Ao atingirem a maturidade física, cerca dos 30 anos, migram periodicamente para as águas tropicais em busca de fêmeas.
Os grupos sociais dedicam grande parte do seu tempo aos longos mergulhos em busca de alimento, os quais parecem ser sincronizados e coordenados. As crias que não podem mergulhar, são deixadas sozinhas à superfície ou na companhia da mãe ou de uma ama - uma outra fêmea do grupo.


Distribuição

O cachalote encontra-se entre as espécies mais cosmopolitas do mundo, sendo encontrado em todos os oceanos e no Mar Mediterrâneo. É relativamente abundante entre o Ártico e o equador. As populações são mais densas próximo das plataformas continentais e canhões, provavelmente devido à maior facilidade em conseguir alimento.


Ameaças

Apesar de a baleação com navios-fábrica ter sido proibida em 1979, a ameaça humana ao cachalote não desapareceu. O Japão adicionou o cachalote às espécies de cetáceos caçadas ao abrigo de baleação científica. Os produtos obtidos desta baleação científica acabam por ser vendidos em mercado aberto no Japão, país em que a carne de baleia é muito apreciada. Outras ameaças são as colisões com grandes embarcações, a prisão em redes de pesca, ingestão de resíduos sólidos como plásticos, derrames de hidrocarbonetos, despejo de resíduos industriais e a poluição sonora oriunda de operações de prospecção sísmica, sonares e tráfego naval.


População e caça

Não se conhece o número total de cachalotes actualmente existente. Estimativas muito grosseiras, obtidas de levantamentos efectuados em pequenas áreas com extrapolação para os oceanos do planeta, variam de 200 000 a 2 000 000 de indivíduos. Apesar de o cachalote ter sido caçado durante vários séculos pela sua carne, óleo e espermacete, as perspectivas sobre a conservação desta espécie são melhores que as de muitas outras baleias. Apesar de ocorrer caça em pequena escala em Lamalera na Indonésia, São Vicente e Granadinas, Santa Lúcia e de o Japão ter adicionado o cachalote às espécies de cetáceos caçadas ao abrigo da baleação científica, a espécie encontra-se protegida em quase todo o mundo. Os pescadores não capturam as espécies de mar profundo de que os cachalotes se alimentam e os mares profundos provavelmente serão mais resistentes à poluição do que as zonas superficiais.
No entanto, a recuperação dos anos da baleação é um processo lento, particularmente no Oceano Pacífico Sul, onde a redução do número de machos em idade de procriação foi muito acentuada.


Observação de cachalotes

Os cachalotes não são das baleias mais fáceis de observar, devido aos longos tempos de mergulho e à sua capacidade de viajarem grandes distâncias debaixo de água. No entanto, devido ao seu aspecto distinto e ao seu grande porte, a sua observação está a tornar-se cada vez mais popular. Os observadores de cachalotes usam frequentemente hidrofones para ouvir os sons produzidos pelas baleias e assim localizá-las antes de emergirem.
Entre os locais mais populares para a observação de cachalotes incluem-se: Kaikoura na Nova Zelândia, Andenes e Tromsø na Noruega, os Açores em Portugal e no Estreito de Gibraltar desde Tarifa (Espanha) onde podem ser observados ao longo do ano, enquanto que outras baleias apenas são observáveis durante a migração. Pensa-se que Dominica é a única ilha do Caribe com um grupo de fêmeas e crias residente durante todo o ano.