Timidez
A timidez ou o acanhamento pode ser definida como o
desconforto e a inibição em situações de interação pessoal que interferem na
realização dos objetivos pessoais e profissionais
de quem a sofre. Caracteriza-se pela obsessiva preocupação com as atitudes,
reações e pensamentos
dos outros. A timidez aflora geralmente, mas não exclusivamente, em situações
de confronto com a autoridade, interação com algumas pessoas: contato com
estranhos e ao falar diante de grupos - e até mesmo em ambiente familiar.
A timidez é um padrão de comportamento em que a pessoa não exprime (ou
exprime pouco) seus pensamentos e sentimentos e não interage ativamente. Embora não comprometa
de forma significativa a realização pessoal, constitui-se em fator de
empobrecimento da qualidade de vida. Deste ponto de vista, a
timidez não pode ser considerada um transtorno
mental.
Aliás, quando em grau moderado, todos os seres humanos são, em algum
momento de suas vidas, afetados pela timidez, que funciona como uma espécie de
regulador social, inibidor dos excessos condenados pela sociedade como um todo,
ou micro-sociedades.
A timidez funciona ainda como um mecanismo de defesa que permite à pessoa
avaliar situações novas através de uma atitude de cautela e buscar a resposta
adequada para a situação.
Tipos de timidez
Existem três tipos de timidez:
- Timidez situacional: a inibição se manifesta em ocasiões específicas, e portanto o prejuízo é localizado (por exemplo: a pessoa interage bem com a autoridade e pessoas do sexo oposto, mas sente vergonha de falar em público);
- Timidez crônica: a inibição se manifesta em todas as formas de convívio social. A pessoa não consegue fazer amigos e falar com estranhos, intimida-se diante da autoridade, tem medo de falar em público etc.
- Timidez ´´proposital``: um termo designado a misantropia.Neste caso a timidez vira um ``Sociopatismo enrustido``.Seria um radicalismo na timidez, `isolação social é pouco`.Um tímido legítimo tem vergonha de si mesmo, um misantropo tem vergonha da sociedade e por isso não se socializa. Alguns misantropos querem ser anti sociáveis, então tenha sempre paciência ao conhecer algum.
Philip Zimbardo, da Universidade de Stanford,
se refere ainda a outra espécie de tímido, aquele que não teme o relacionamento
social, simplesmente prefere estar só, sentindo-se mais confortável com suas ideias
e com seus objetos inanimados do que com outras pessoas. Esta seria a pessoa
comumente chamada de introvertida, que tem muitos pontos em comum com o tímido
e se torna vulnerável a transtornos de ansiedade.
Evolução
Adultos tímidos foram crianças tímidas ou adolescentes
tímidos. Já adolescentes tímidos não foram necessariamente crianças tímidas. No
entanto, ter um temperamento tímido na infância ou na adolescência não torna
inevitável que alguém seja tímido por toda a vida.
Infância
Algumas crianças nascem com pre-disposição a serem
tímidas, assim como outras têm predisposição para se tornarem hiperativas
ou calmas. Mas, se uma criança com tal predisposição genética encontrar um
ambiente propício para a timidez se desenvolver, isso certamente ocorrerá.
Não há unanimidade entre os estudiosos sobre quais sejam as causas da
timidez na infância, variando as opiniões de acordo com a corrente doutrinária
adotada por cada profissional.
O psicoterapeuta Ruy Miranda aponta que o papel
dos pais
é decisivo neste processo e a timidez certamente desenvolverá se um ou ambos os
pais: a) forem eles próprios tímidos – a percepção depreciada de si mesmo é
transferida para o filho; b) forem muito agressivos
– o filho passa a perceber os outros como potencialmente hostis; c) submeterem
o filho a constantes críticas ou humilhações silenciosas ou públicas – a
auto-estima do filho é comprometida; d) criem problemas familiares que causem
vergonha – se o pai bebe ou leva uma vida desregrada a criança ou o jovem pode
carregar esta vergonha como parte de sua vida; o mesmo problema ocorre com a
separação dos pais; e) tiverem um comportamento frio – pais que não exprimem
seus sentimentos não ajudam os filhos a desenvolver a percepção de confiança em
si próprios.
Em suma, a timidez deve ser vista como um traço do temperamento,
com tudo o que ele implica, isto é, algo estável presumivelmente herdado, que
aparece cedo na vida de numa criança e que provavelmente determina o posterior
desenvolvimento da personalidade, da emotividade e da conduta
social. Mas, apesar do peso da hereditariedade,
este traço do temperamento poderá ser atenuado ou reforçado pela conduta dos
pais e pelas experiências vividas pela criança na infância.
Adolescência
A timidez é mais comum na adolescência
e, como vimos, independe de o adolescente ter sido tímido na infância. O quadro
na adolescência, principalmente nos primeiros anos, pode se mostrar sério,
mesmo quando na infância se apresentasse leve ou quase imperceptível.
O rápido crescimento por que passam os adolescentes pode fazer com que
ele crie uma auto-imagem desfavorável de seu corpo, do todo ou de parte dele,
mesmo que essa imagem distorcida não corresponda à realidade. Numa fase da vida
em que a aceitação pelo grupo é essencial, esta distorção do corpo gera no
jovem a insegurança de não ser bem visto pelos outros e favorece o reforço da
timidez.
Este estado de insegurança se alterna, por vezes, com um estado de
euforia, quando o jovem faz alguma coisa para mudar a parte do corpo que lhe
causa desconforto (por exemplo, mudando o corte de cabelo ou fazendo regime para
emagrecer). Este estado de euforia, no entanto, não costuma durar muito e logo,
a insegurança e a timidez se reinstalam.
Este quadro não costuma perdurar quando o jovem entra na idade adulta,
por volta dos vinte anos. A persistir, tem tudo para se transformar num quadro
realmente grave de transtorno mental.
Causas físicas
Estudos mais recentes apontam causas físicas para a timidez. Pesquisas
feitas nos Estados Unidos com crianças de até dois meses
de vida, submetidas a tomografia computadorizada do cérebro,
mostram que crianças tímidas apresentam mais atividade no lado direito do
cérebro, enquanto crianças que não apresentam este quadro tem o lado esquerdo
mais ativo.
A amígdala
e o hipocampo
são outros órgãos cuja ação é afetada pela timidez. A amígdala, considerada “o
centro do medo”, parece estar conectada a situações estressantes, enquanto o
hipocampo transmite os sintomas da timidez (tremura, suor, tensão muscular)
para o corpo.
A Escola de Medicina Harvard realizou pesquisa com pessoas de vinte anos, que não
demonstravam mais sinais da timidez sofrida na adolescência. Submeteu-as a
tomografias computadorizadas enquanto lhes mostravam fotos de pessoas
desconhecidas: todas apresentaram hiperatividade na amígdala.
A abordagem biológica da timidez possibilitará que esta seja tratada no
futuro com remédios criados especificamente para atuar diretamente nesses
sintomas físicos.
Formas patológicas
A timidez não é um transtorno mental. Mas a timidez crônica pode evoluir
para uma patologia,
principalmente quando o adolescente não consegue superá-la ao entrar na vida
adulta.
Fobia social
Tem-se aí a fobia social, quando a pessoa passa a evitar
todas as situações sociais que não lhe são impostas pela mais absoluta
necessidade. Assim, compelida a garantir sua sobrevivência, a pessoa pode, com
algum sacrifício, trabalhar, mas evita outras situações que exijam exposição
social, como comer em restaurantes, falar em público ou usar banheiros
públicos. Quando submetida a essas situações, suas reações físicas são mais
visíveis e intensas, obrigando às vezes a uma internação hospitalar. Além das
sudoreses e tremores comuns nos tímidos, o fóbico sofre de taquicardia, náuseas
e desconforto abdominal.
O sofrimento de quem é acometido de fobia social é tão mais insuportável
porque, no íntimo de seu ser, a pessoa anseia por manter um
"relacionamento social", mas só não o faz porque uma intensa sensação
de ameaça impede que isso ocorra.
Síndrome do pânico
Mais grave que a fobia social é o transtorno ou síndrome do pânico. Ao contrário da fobia
social, não depende de nenhuma interação social ou mesmo da presença de outra
pessoa para que se desencadeie o processo patológico, em que o paciente
apresenta sensação de desmaio ou de morte iminentes.
Os ataques de pânico ocorrem aleatoriamente e o
portador da síndrome pode passar longos períodos sem senti-los, tanto que as
primeiras manifestações são interpretadas como sendo apenas sinais de uma
exaustão física ou uma decorrência do stress.
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