Autoconhecimento
As palavras não são as coisas, a palavra
caneta não é uma caneta. As descrições dos fatos, não são os fatos. As
explicações dos fenômenos, não são os fenômenos. As teorias sobre a realidade,
não é a realidade. Precisamos “ir além” das palavras, das descrições, das
explicações, das teorias, para nos aproximarmos do real. Chamamos este “ir
além” de compreensão. E compreender é ir além das palavras, para que possamos
ultrapassar a mensagem (discurso ou ensinamento) e atingirmos a sua essência, a
sua realidade. E é imprescindível compreendermos para que possamos viver
plenamente, intensamente, apaixonadamente feliz!
Mas
raras são as pessoas que vivem assim. A grande maioria sofre! Sempre que nos
afastamos da realidade, sofremos! Quanto maior o afastamento da realidade,
maior o sofrimento. E sofrimento é medo, insegurança, incerteza, tensão nervosa
e emocional, ansiedade, angustia, depressão, tédio, melancolia, aflição,
desespero, vontade de matar ou morrer, e uma série de indicadores (sintomas)
psicológicos e existenciais. Para superarmos o sofrimento faz-se necessário
retornar a realidade, esse espaço de nossa existência, pouco frequentado, mas
onde todas as coisas verdadeiramente acontecem.
O
que é realidade?
A
realidade é. É o que é. É o que está sendo, acontecendo, no presente, no eterno
presente, no aqui-e-agora. É fato concreto, visível, consumado! Tudo que
passou, passou, já foi real, agora não é mais! Tudo que há de vir, virá. Poderá
ser real, mas ainda não é! A nossa existência é como um rio, onde o passado
deságua no presente, que fluirá para o futuro. Ou seja, no presente temos todos
os elementos do passado e do futuro (consciente ou inconscientemente).
Precisamos
estar atentos, alertas e vigilantes, para não sermos absorvidos pelas memórias
do passado (ressentimento, culpa, etc.); por nossos condicionamentos sociais,
culturais e religiosos; por nossas ideologias; por nossas meras opiniões,
palpites e outros palavrórios; por nossos preconceitos e superstições; por
nossos sonhos, fantasias e ilusões. Apesar disso, a maioria das pessoas vive
num estado profundo de desatenção. Vivem tão desatentos, de maneira tão
mecânica, tão automática, tão condicionada (sem liberdade, autonomia e
independência), que não percebem que estão desatentas. Perceber a nossa própria
desatenção é o primeiro passo em direção ao real. É com essa atenção que
podemos absorver, investigar e compreender a realidade.
Como
conseguir este estado de atenção?
De
início surge uma aparente contradição: para estarmos atentos precisamos de
energia interior, e para termos esta energia, precisamos de atenção. Então, por
onde se começa? Começamos por um desejo forte, muito forte, intenso,
apaixonado, de se auto observar, se auto investigar, e se autocompreender, vale
dizer, se autoconhecer! O autoconhecimento é o início de uma vida plena e
sadia, o ponto de equilíbrio nesse mundo confuso, violento, corrupto e
extremamente desequilibrado. Sem
autoconhecimento as pessoas não vivem de maneira eficaz. Vivem muito confusas,
criando conflitos pessoais e sociais. Vivem desequilibradas, distantes da
realidade, pensando sem clareza, sentindo calor, e agindo de maneira irracional
e absurda. Mas isso tem “cura”. E a “cura” vem através do autoconhecimento. Não
é o psicólogo, o terapeuta, o psiquiatra, o psicanalista os que “curam”. O que
“cura” é a realidade. O terapeuta mostra quando e como a pessoa se aproxima ou
se afasta da realidade. “Terapia” é uma palavra de origem grega que significa
“cuidado” no sentido de atenção, dedicação e compreensão. Qualquer pessoa, que
através dos seus “cuidados” nos aproxima da realidade, será um terapeuta, a
relação entre essas pessoas será uma terapia, e o autoconhecimento estará
presente entre elas.
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