Acredita-se que houve uma época, em que os humanos ficavam cercados de animais e reconheciam o parentesco com eles. Os animais possuem forças espirituais assim como os homens.
A Simbologia animal está profundamente gravada no inconsciente coletivo da humanidade. Herdamos sentimentos e recordações inconscientes que condicionam nosso comportamento consciente.
Nos nossos sonhos aparecem muitos animais, os chamados animais oníricos. Algumas vezes os animais são encontrados no habitat de quem sonha, e também, às vezes nem são deste mundo.
Geralmente as pessoas se assustam com sonhos de cobras, mas as cobras representam também a cura, a medicina. Sonhos com animais são benéficos, mas algumas pessoas gostam de avaliar apenas os lados negativos e não estudam as qualidades que os animais representam.
O xamanismo classifica os sonho em pequenos sonhos e os grandes sonhos. Os “Grandes Sonhos” são os que aparecem repetitivamente e também os que são tão reais que parecem realidade, aqueles que sonhamos como se estivéssemos acordados. Os xamãs dão atenção aos grandes sonhos e são tratados como uma comunicação do animal de poder.
Stephen Larsen tem uma amostragem de mais de três mil sonhos contendo animais, entre eles pessoas que se transformavam em animais. Ele relata que por vezes, pessoas que sonham que são picadas por cobra tem estranhas alterações de consciência no sonho, provocadas pelo veneno. É importante notar que o veneno de cobra também é usado como remédio (Lachesis) e era sagrado para Esculápio, o deus da Cura.
Quando nos sentimos acuados, em situações perigosas, e reagimos instintivamente, nosso instinto animal vem à tona, e somos dotados de maior força física e agilidade. Inconscientemente reconhecemos a força e o poder dos animais e usamos termos tais como:
Ele é esperto como uma raposa!
Realmente ele é um cobra no futebol!
Quando é contrariado vira uma onça!
Tem memória de elefante!
Ele é a ovelha negra da família!
Ele chegou na idade do lobo!
Porque a frase: O cão é o melhor amigo do homem? Quantas histórias conhecemos, de animais indo ao auxílio de seres humanos em perigo? Como golfinhos que salvam marinheiros prestes a se afogarem, cães e cavalos, que conduzem pessoas a lugares seguros? E, o incrível pombo-correio? Isso implica que nossa mente individualizada faz parte de algo maior.
No Brasil em 1888, o Barão de Drummond para ajudar a manter o Zoológico do Rio de Janeiro, criou o famoso “Jogo do Bicho”, que tomou conta do país. São 25 bichos organizados em ordem alfabética e combinações de números em dezenas, centenas, milhares. Hoje é considerado crime pelas leis brasileiras. Os símbolos animais também são utilizados em escuderias de equipes esportivas, como símbolo de nações (águia americana, tigres asiáticos, etc). Nos logotipos de empresas, em clubes, marcas de automóveis, na propaganda (comerciais de televisão, cinemas, revistas).
No cenário das estórias, das fábulas, aparece em 620 d.C., Esopo, que reuniu centena de contos de animais, repetindo os padrões de comportamento humano. Ele foi conhecido como o maior contador de estórias da antiguidade, foi dele a expressão: A Moral da Estória “.
O francês Jean de La Fontaine, no séc.XVII foi conhecido como o maior historiador do mundo ocidental. Sua obra prima ”Fábulas” inspirada no mestre Esopo, mostrava a agressividade e a ignorância humana, através dos animais. Os chamados contos de fadas não existiam apenas para crianças, mas também para adultos. No início eles não foram escritos para crianças. Vários historiadores como Irmãos Grimm, Monteiro Lobato, e outros, se inspiraram nos animais. Alguns deles : O Gato de Botas , A Gata Borralheira, O Patinho Feio, O Rouxinol, A Pequena Sereia, A Bela e a Fera, O Leão e o Rato, Mamãe Ganso, Os Três Porquinhos, Mogli, o Menino Lobo, Bambi, Dumbo, Os Dálmatas, O Rei Leão.
Pelo fato dos animais terem nos precedido e testemunharem a nossa evolução, são considerados nossos parentes, por muitas tradições nativas. A aliança entre seres humanos e os clãs animais estendem a tempos atrás desde a pré-história, e foi sendo ignorado nos tempos modernos.
Nosso relacionamento com o reino animal pode ser poderoso e significativo hoje, como era no passado.
No folclore africano como na mitologia grega, a harmonia da humanidade com os animais reflete-se na dieta vegetariana do Primeiro Povo. Nossos primeiros antepassados evitavam a mortandade de animais para se alimentar. Viam a natureza como parte dela. Sonhavam e caminhavam em realidades inseparáveis, o natural e o sobrenatural se fundiam.
No passado xamãs, sacerdotes e sacerdotisas mantinham o sagrado conhecimento da vida. Eles eram, capazes de andar por mundos invisíveis. Eles sabiam que os animais falavam quando você sabia ouvir.
O que está acima está abaixo. Este princípio ensina que todas as coisas estão conectadas. Nós não podemos separar o físico do espiritual, o visível do invisível. Este princípio dá um dos significados de resolver muitos paradoxos e descobrir segredos da natureza. Por essa razão estudar os totens animais é essencial para entender como o espiritual se manifesta com a vida natural.
O totem é algum objeto, ser ou animal cuja energia nós nos associamos durante a vida.
No mundo moderno, existem várias evidências do compartilhar com a mente animal. Vejam como milhares de pessoas falam com seus animais de estimação. Nesse momento acabam entrando na freqüência vibratória do animal.
Os vegetarianos que não comem carne por sentirem-se ligados com a vida animal. Os que lutam contra as experiências com animais e os que lutam contra o uso de peles, penas, couro, são pessoas com sensibilidade que recordam vestígios da época em que a humanidade realmente compartilhava a consciência com o reino animal.
Os animais ajudaram e ajudam os homens nos transportes, comunicação, na lavoura, na manutenção da ecologia. (elefantes, camelos, cabras, cavalos, búfalos, bois, pombos, cães, burros etc.) Hoje em dia animais virtuais também estão presentes na informática, onde criadores de software lançam produtos com programas animados por bichos.
Muitas pessoas consideram os animais irracionais, com menos consciência, menos inteligente, menos importante que nós mesmos. A sociedade os vê simplesmente como cobaias em laboratórios, peças de exposição em zoológicos, para serem consumidos como comida ou adornos, ou como os mau-acostumados bichos de estimação.
Podemos estar acima do passado de centenas de anos de destruição causados, quando agíamos sem a sabedoria do coletivo e de nossos ancestrais. Se pensarmos mais como os povos xamãnicos, e não sermos arrogantes na nossa visão sobre os animais poderíamos receber dádivas da medicina animal. Níveis profundos de comunicação com os animais estão abertos a quem tiver paciência e abertura de coração suficiente.
Nós podemos usar a imagem animal como meio de aprender sobre nós mesmos e sobre mundos invisíveis. Esses arquétipos têm suas próprias qualidades e características que se refletem através de comportamentos e atividades dos animais e outras expressões da natureza.
O animismo considera toda a natureza espiritualmente viva. O homem tinha parentes e aliados no mundo das plantas, dos minerais, e dos animais. Os nativos norte-americanos dizem: “Não é apenas o homem que foi feito à imagem de Deus: também foram o Jaguar, o búfalo, o urso, a águia, a serpente, as borboletas, as árvores, os rios e as montanhas”.
Os animais estão mais próximos do que nós da fonte divina. Cada espécie de animal tem um “animal mestre” que é também um poder espiritual e com o qual temos que nos relacionar. Cada animal evidencia uma característica, ou um estado de espírito, um instinto, um afeto. O pânico à vista ou proximidade de certos animais parece um resíduo em nossa psique. Arquetipicamente essa emoção está ligada a Pã, o deus arcaico dos animais, que podia encher de pânico tanto animais como homens.
A biologia evolucionista fala de nossas afinidades com os primatas e com outros animais, assim como nossa ligação com toda a vida na terra. O biólogo Rupert Sheldrake sustenta que a consciência humana deve ter se desenvolvido com o conhecimento dos hábitos dos animais que o homem caçou, das qualidades das plantas que colhemos, das mudanças sazonais da natureza e do caráter de animais domesticados. Nossa íntima associação com animais domésticos continua até hoje. Aqueles que criam, treinam e cavalgam animais, os conhecem intimamente, e desenvolvem uma comunicação intuitiva com eles, assim como os treinadores de animais que se apresentam em espetáculos.
Há evidências, tanto de uma perspectiva histórica quanto do ponto de vista da ciência, de que algo semelhante à comunicação mental estabelece uma continuidade entre humanos e animais, de que esta comunicação pode ser surpreendentemente profunda, e, que não pode ser explicada, por intercâmbios físicos conhecidos; e, às vezes, representa uma inegável natureza não localizada. Para muitas culturas antigas, seria impensável não compartilharmos a consciência com outras formas de vida.
A capacidade de entender-se com os animais está preservada nas tradições xamãnicas de quase todas as culturas tribais. Uma parte notável do ritual é o encontro com um animal, que se torna seu espírito guardião, revelando-lhe conhecimentos secretos, que não raro incluem a linguagem dos animais. Entre os índios da América Central o espírito guardião é conhecido como nagual.
O elo estreito e íntimo entre o ser humano e o nagual se expressa na capacidade do xamã transformar-se nesse animal familiar. O antropólogo australiano A. P. Elkin em seu estudo dos aborígines atesta que o animal totêmico avisa a réplica humana do perigo, e chega a prestar-lhes serviços. Segundo Mircea Eliade durante a iniciação xamãnica, o futuro xamã deve conhecer a linguagem secreta dos espíritos animais. Com freqüência a linguagem secreta tem sua origem na imitação dos gritos dos animais.
Imitar a voz dos animais, utilizar sua linguagem secreta durante uma sessão, é uma ferramenta para o xamã circular livremente pelas zonas cósmicas. Incorporar o animal durante uma sessão é mais que uma possessão, na verdade é uma transformação mágica de um xamã no animal. Uma das outras formas usadas era a máscara.
Eliade prossegue:
- A amizade com os animais, o conhecimento de sua linguagem e a transformação em animal são outros tantos sinais de que o xamã restabeleceu a situação paradisíaca, perdida no alvorecer do tempo.
Danças e artes marciais também foram inspiradas nos animais. O Kung-Fu, por exemplo, foi criado a partir da observação dos movimentos dos animais, dando origem a vários estilos como; Garras da Águia, Leopardo, Louva-a-Deus, Gafanhoto, Cavalo, Tigre, Serpente, e outros. A nossa capoeira tem os golpes Rabo de Arraia, Borboleta, Macaco, etc. O Kempô, criado por um monge budista, incorpora os instintos dos animais, imitando todos os seus movimentos.
Foi através da observação da natureza, das plantas e dos animais, que os primeiros ioguis foram desenvolvendo as práticas das várias posturas (asanas) que imitam animais : Vatayanasana ( postura do cavalo), Bakasana ( postura do cisne),Mayurasana ( postura do pavão ), Bhujangasana ( postura da cobra ), Hanumanasana ( postura do macaco), Mandukasana ( postura do sapo), Utrasana ( postura do camelo) ,Matsyasana ( postura do peixe), Kurmasana ( postura da tartaruga) , Gomukhasana ( postura da vaca), Makarasana ( postura do crocodilo) , Salabhasana ( postura do gafanhoto), Vrsasana ( postura do touro), Vrscikasana (postura do escorpião), etc.
Os gestos magnéticos, ou mudrás : Garuda Mudrá (gesto da águia), Kurma Mudrá ( gesto da tartaruga), Hamsásya (gesto do coelho) , Bherunda Mudrá (gesto dos pássaros) , Tamrachuda Mudrá (gesto do galo) Sarpasirsha (gesto da serpente), Karkata Mudrá (gesto do caranguejo) Simhamukha Mudrá (gesto da face de leão) etc.
O animal sobrenatural serve como uma janela para dimensão transpessoal. Seus olhos, quando se vê através deles, abrem-se para o abismo, o reino Nagual, a causa secreta.
Se os olhos comuns são janelas da alma, os olhos do animal onírico podem abrir-se mais profundamente para o reino do espírito. As cobras estão entre os mais primários e poderosos dos animais simbólicos. As cobras vivem em lugares escondidos, na terra ou na água . São venenosas, e potencialmente usadas como remédios. A mais importante é a sua capacidade de mudar de pele, que se tornou um símbolo primário da transformação. O lado sinistro da cobra foi tão ressaltado que suas dimensões positivas foram esquecidas. Os animais eram sagrados para Ascépio (ou Esculápio ), o deus da Cura, e ainda aparecem em seu símbolo, como o caduceu, enroscada num bastão e coroadas de asas ( o símbolo da medicina). Os dois sutis canais de prana : ida e pingala, assemelham-se a serpentes do caduceu enroladas no canal central da espinha, o sushumna. O simbolismo indica uma profunda ligação simbólica entre a serpente e a força vital da própria vida. A tarefa do iogue é despertar a serpente kundalini adormecida (força espiritual adormecida no corpo) que está enroscada num falo, ou linga, na base da espinha, e levá-la através de um canal central. Se houver pureza quando a serpente chega à cabeça, ela sentira o samadhi (ou consciência cósmica) Também os chakras possuem um animal simbolizando o veículo do bija.
Como serpentes, os cavalos também simbolizam alguns aspectos da energia psíquica. O cavalo possibilita ao homem entrar em contato com seu lado instintivo, e ter maior domínio sobre ele. Veados podem ser mansos ou selvagens. Tem a conotação da energia que nos leva.
Campbell escreveu sobre o papel do olho do animal e seu simbolismo nas cavernas paleolíticas. Está associado com o Sol, ou com o olho solar, e também com o leão e a águia. É a porta do Sol, a porta do Xamã, a passagem através do mundo da matéria para chegar ao espírito. Jung, em vários dos seus escritos, também explorou esse aspecto do simbolismo animal e espiritual.
Nas Américas Central e do Sul um xamã pode se transformar em jaguar e vice-versa. Há índios que pintam o corpo imitando um jaguar, e assim ganham força e as habilidades do animal. Os totens animais simbolizam energias específicas que nos alinham com a vida. Quando nós prestamos atenção e estudamos um totem, nós estamos honrando a essência deles. Nós podemos evocar essa essência para entender melhor nossa vida e as circunstancias com mais clareza. Nós podemos compartilhar de seu poder ou da sua medicina.
Os animais terrestres têm sempre tido uma forte simbologia associada a eles. Ele tem representado o lado emocional da vida, refletindo qualidades que devem ser superadas, controladas, ou re-expressadas. Eles também são símbolos de poderes associados com reinos invisíveis que nós podemos aprender a manifestar no visível. Pássaros podem freqüentemente ser considerados os símbolos da alma. Suas habilidades para voar refletem a habilidade dentro de nós para voarmos para novas qualidades, servir de ponte entre o céu e a terra. Nos totens pássaros cada um tem suas próprias características, mas eles podem ser usados para estimular grandes vôos de esperança, inspiração e idéias. Os aquáticos também podem ser totens. A água é um símbolo ancestral do plano astral e o elemento criativo da vida. Vários peixes e outras formas aquáticas de vida simbolizam orientação para expressões de intuição, imaginação criativa, e o fluir das nossas emoções. Eles podem refletir o lado feminino ou nossa essência. Os insetos também fazem parte da natureza, eram mitos de fertilidade no Egito, a Mulher Aranha quem criou o Universo. Chegou o momento para rever nosso vínculo ancestral com os animais. Desde a antiguidade o homem tem imposto sacrifícios aos animais. O carneiro é um símbolo universal do sacrifício animal. Na Babilônia era sacrificado nas comemorações do ano novo, para atenuar os pecados do reino. Na Grécia, Roma, no Islã, na África e no Egito, era oferecido aos deuses, para diversos fins.
Quero citar um trecho do livro “Os animais e a Psique”, da editora Palas Athenas:
“Entre os hebreus, o sacrifício do carneiro, foi uma antecipação da imolação de Cristo. O cristianismo absorveu o simbolismo pagão do sacrifício animal e o carneiro passou a ser o símbolo do Filho imolado, que segundo os textos bíblicos, pagou com sua vida o pecado dos homens e os salvou para a vida eterna”. O carneiro foi escolhido, pela igreja, como imagem e símbolo de Cristo. O carneiro tem aspectos de pureza, da mansidão, e da vítima sacrificial. Morto na cruz para a salvação da humanidade, Jesus derramou seu sangue, assim como o sangue do cordeiro libertou o povo judeu do Egito.
No cristianismo, o cordeiro está ligado a Jesus, Cordeiro de Deus, que se imolou pela humanidade: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do Mundo”. João 1:29
Também é encontrada na Bíblia o Cordeiro do Apocalipse, com sete chifres e sete olhos, com poderes para abrir o lacre dos sete selos e vingar a morte dos santos e dos seguidores de Jesus.
Os animais devem ser tratados com respeito, devem ser honrados e bem estudados porque são manifestações dos poderes arquetípicos que estão por trás das transformações da alma humana. Eles nos falam de nossas compulsões ou instintos, como o comportamento dos filhotes e das aves acompanhando uma figura materna. O animal torna-se símbolo de uma força específica, energia invisível, espiritual manifestando-se em nossa vida. Que nosso caminho seja guiado e protegido novamente pela sabedoria ancestral da Terra.
Fonte: http://www.xamanismo.com.br/
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