Segue um trecho do livro "Os Demônios Descem do Norte" de Delcio Monteiro de Lima, onde o autor menciona os divervos tipos de igrejas que vieram dos EUA para o Brasil. Uns com intuitos espirituais e outros apenas com intuito financeiro.
"Uma enorme surpresa está reservada a quem chega à Rua Visconde de Parnaíba, a Mooca, em São Paulo. Nada parece com que foi imaginado. O templo-sede da Congregação Cristã no Brasil é imenso, imponente, mas sua capacidade para acomodar 4 mil pessoas torna-o pequeno nas noites de culto. Predomina ali a simplicidade, igreja sem imagens de santos e sempre de cor clara, a maioria é gente da classe média, muitos descendentes italianos, mas a grande maioria é de brasileiros genuínos. Aquela multidão, homens trajados com sobriedade e mulheres de véu, separados em ala feminina e ala masculina, ora fervorosamente, só interrompidos pela voz solene do pregador ou pelos cânticos dos fiéis, acompanhados pela orquestra de dezenas de músicos. O culto nunca termina antes das 10 da noite. Preces, hinos, testemunhos, pregação. Depois, fora da igreja, despedem-se fraternalmente. Os homens beijam os homens e as mulheres o fazem entre si. Homens e mulheres não se beijam, trocam apenas solenes apertos de mão. Muito respeito! A felicidade, entretanto, está estampada na fisionomia de todos.
A Congregação Cristã no Brasil é a segunda maior igreja pentecostal do País. Vem logo abaixo da Assembléia de Deus em números de crentes, embora seja cerca de um ano mais antiga.
É uma experiência religiosa que também veio dos Estados Unidos, trazida por Louis Francescon, um italiano naturalizado americano, nascido a 29 de março de 1866 em Cavasso Nuovo -Italia, que morava em Chicago desde 1890.
Louis Francescon converteu-se ao pentecostalismo em fins de abril de 1907, passando a freqüentar a missão do reverendo W. H. Durham, na North Avenue, em Chicago, e lá, a 25 de agosto do mesmo ano, recebeu o batismo com o Espírito Santo, expressando-se pela primeira vez em línguas que jamais havia ouvido.
Toda a vida de Francescon voltou-se, então, para o que considerava obra de Jesus Cristo. Dirigiu inúmeras campanhas de evangelização, conseguindo centenas de conversões em Chicago, Saint Louis, Los Angeles e Philadelphia, principalmente. Os americanos de origem italiana tinham por ele especial respeito e considerações. Um homem de comportamento irrepreensível. Por todas as cidades onde pregou, seus seguidores abriram e mantiveram casas de oração.
Guiado pelo que chamou santa revelação, embarcou em Chicago a 4 de setembro de 1909 com destino a Buenos Aires, viajando em companhia de Guglielmo Lombardi e Lucia Menna. A vocação missionária de Francescon levou-o, juntamente com Lombardi, até São Paulo, em março de 1910, onde permaneceram até o mês de abril.
Lombardi retornou à Argentina para continuar o trabalho iniciado por Francescon, aceitando o desafio de um ateu italiano de nome Vicente Pievani, seguiu viagem rumo a Santo Antonio da Platina, no norte do Paraná, para tentar a evangelização naquele lugar.
A 20 de junho, Francescon estava novamente em São Paulo, abrindo no Brás, o que seria a primeira casa de oração pentecostal do País.
A Congregação Cristã no Brasil está organizada segundo o modelo congregacional americano. Como nos Estados Unidos, é avessa a qualquer tipo de publicidade, não possuindo jornais de propaganda doutrinária, nem literatura religiosa de nenhuma espécie. “Outras luzes não precisamos, nem queremos. O tempo muda sempre, porém, o Senhor é o mesmo, eterno e fiel” – é o ensinamento. A igreja, assim, só tem impresso o estatuto, que resume também a sua doutrina, e a tradução de um testemunho de fé de Louis Francescon, editado em Chicago. No mais, tudo se preserva por transmissão oral, seguindo os ensinamentos diretamente da Bíblia, deixados por Jesus Cristo.
Desta forma, não possui dízimo, e os responsáveis por atividades dentro da igreja nao tem salário. Tudo é feito voluntariamente. E cada membro tem sua profissão fora da igreja e vive de seu próprio sustento.
Ao contrário de outras igrejas pentecostais, cuja estrutura e funcionamento muito as tornam parecidas a modernas empresas, a Congregação Cristã no Brasil conta com uma organização singela, sem sofisticação. Tudo é descomplicado. Por exemplo, a ordenação de anciãos, os crentes que presidem os serviços de cultos nas casas de oração, desempenhando funções equivalentes às dos pastores, faz-se em escolha colegiada de comum acordo, segundo acreditam, consenso iluminado pelo Espírito Santo, não mantendo, pois, a igreja, seminários para prepará-los. Não dispõe, também, de escolas dominicais para ensinar a Bíblia, nem faz pregação em praça pública.
Outra diferença das outras igrejas pentecostais é que a Congregação Cristã no Brasil não adota sistema de cobrança obrigatória de dízimo. As ofertas de dinheiro são voluntárias e o crente não tem nenhuma obrigação de natureza financeira para com a igreja. Se quiser doar algo para a manutenção do prédio ou para atendimento de outros fieis necessitados que a "Obrada Piedade" atende, pode doar, ou então levar diretamente uma cesta básica a algum necessitado, pois assim, já fez sua parte, mas sem nenhum compromisso. Também, não remunera seus anciãos e colaboradores, norma diferente das demais igrejas evangélicas, onde pastores e assemelhados têm vínculo empregatício, com Carteira de Trabalho assinada.
A Congregação Cristão no Brasil é das igrejas pentecostais a que experimenta a mais dinâmica expansão, com dados de crescimento absolutamente confiáveis. A partir de 1966, com efeito, organiza um relatório anual de atividades contendo os registros de batismo, o que a capacita a conhecer o número exato de pessoas que ingressam formalmente nos seus quadros. Assim, computados ano a ano até 1986, eles totalizavam 1.015.619 crentes. Não estão aí considerados, portanto, os batismos anteriores a 1966, ou seja, os crentes que receberam o sacramento desde 1910, data da fundação da igreja.
Tudo na Congregação é gratuito. Não são cobrados os batismos, as orações, as unções, nem as visitas espirituais realizadas aos doentes. Não há registro, nem ficha de cada fiel, nem registro de quanto ganha ou do que trabalha cada membro. Como cada um vive de sua própria profissão fora da igreja, na Congregação é realizado apenas o serviço de orar e louvar a Deus.
Por isso, quem pensa que todo crente é igual, vemos que não.
Crente é aquele que crê em Jesus, então qualquer um pode ser crente.
Cristão é aquele que segue os ensinamentos de Jesus.
E como podemos ver, nem todas as igrejas o seguem apenas com fins de salvação da alma.
Algumas fazem do culto um verdadeiro comércio, o que não é o caso da Congregação Cristã, como mencionado acima..."
(Depois o autor do livro cita as demais igrejas vindas também dos EUA para o Brasil.)
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