John Matthews - Tradução Claudio Quintino - originalm,ente publicado em www.heramagica.com.br)
Os Mistérios são os portais entre este mundo e o Outro Mundo, o ponto
de encontro de pessoas e deuses. Como verdades simbólicas, eles
parecem separados do mundo corriqueiro, difíceis de serem acessados
pelos não iniciados: do ponto de vista do Outro Mundo, os mistérios
são a linguagem através da qual os conceitos espirituais podem ser
transmitidos e armazenados. Assim como a Eucaristia cristã recorre aos
elementos mundanos do pão e do vinho para expressar a presença de
Cristo, em tempos anteriores vivenciava-se o Outro Mundo através de
símbolos mundanos e encenações rituais dos mistérios inefáveis. Um
carvalho era uma árvore, mas também era o deus que habitava a
floresta, um totem do Green Man. Quando o líder tribal vestia-se com
folhas de carvalho, ele se transformava no próprio deus encarnado.
A palavra 'mistério' vem do grego myein, 'manter silêncio'. A ênfase
excessiva nos segredos e na elitização dos mistérios afugentaram
muitos que pela primeira vez se aproximavam dos Caminhos do Ocidente;
isto porque, da mesma forma que uma família exclui as outras pessoas
de seu círculo mais íntimo independentemente de quão hospitaleira ela
seja, o grupo espiritual também preserva seus próprios mistérios e
guardiães. Ingressar nos mistérios é compreender a natureza dos deuses.
Os mistérios não podem estar arbitrariamente abertos a todos, até por
uma questão de segurança pessoal: eles devem ser preservados e
transmitidos com cuidado. Até mesmo para os nascidos na tribo a
iniciação nos mistérios era um privilégio conquistado e não um direito
adquirido: conquistado através do sofrimento, do sacrifício e da
provação. Mas o verdadeiro segredo por trás dos mistérios é que eles
não podem ser transmitidos de um ser para outro: aquele que conhece os
mistérios quando muito pode fornecer diretrizes e chaves para o
conhecimento, mas jamais poderá transmitir o conhecimento em si. Este
só é revelado ao iniciado através da experiência pessoal e pela
percepção reveladora.
O impacto da participação nos mistérios é subestimado atualmente por
aqueles que os analisam de um ponto de vista intelectual e são, por
assim dizer, analfabetos em termos de simbolismo. Contudo, para
aqueles que se expunham às energias personificadas dos deuses e se
desnudavam diante da alma grupal dos ancestrais, a experiência dos
mistérios era terrivelmente marcante e profundamente compensadora.
Com a formalização dos mistérios surgiu um clero estruturado para
proteger e direcionar as chaves de seus ensinamentos. Os rituais de
celebração dos Mistérios tendem a se enquadrar num padrão tríplice:
mistérios pessoais, sazonais e tribais.
Os ritos pessoais lidam com os ritos de passagem: nascimento, vida e
morte. Os três estágios da vida estão intimamente associados ao Outro
Mundo, e cada um deles era marcado por um rito de iniciação que
indicava a transição de um estágio para o seguinte, pois o sujeito
morria para o velho e renascia para o novo. Assim como o recém nascido
precisa encontrar seu caminho em meio ao labirinto do nosso mundo, o
recém falecido deve encontrar seu caminho pelas trilhas perdidas do
Outro Mundo. Nossa sociedade moderna carece de ritos de passagem que
suavizem as transições de nossas vidas.
A iniciação não confere por si só grandes poderes nem mostra como o
conhecimento deve ser usado. Ela é somente o plantio de uma semente
que as experiências da vida farão germinar, de acordo com os recursos
pessoais do iniciado. Ela estimula os potenciais latentes do candidato
ou candidata, permitindo-lhe compreender os padrões da vida num nível
mais profundo do que a compreensão superficial. Apesar de as chaves
dos mistérios serem fornecidas aos iniciados, cada um precisa seguir
seu próprio caminho na escuridão seguindo a luz da intuição pessoal.
Visite o site oficial de John Matthews: www.hallowquest.org.uk
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