O yajña, o ritual do fogo, também chamado agnihotra, homa ou havana, é uma prática muito mais antiga que o puja. Faz parte do hinduísmo mas nasceu nos tempos vêdicos, entre 6.500 e 4.000 anos atrás, quando o uso do fogo era essencial na vida dos homens. Temos evidências de que é algo muito antigo, mas não sabemos ao certo quanto. Também, não interessa, pois o fato de ser antigo não o torna melhor. As guerras e a escravidão são muito antigas, mas isso não as torna boas.
O altar vêdico era originalmente o mesmo lugar que se usava para cozinhar. O resto da casa se construía em torno desse fogo central. Tais fogos permaneciam acesos durante gerações e gerações. Aliás, isso acontece até hoje. Na Índia, tivemos a oportunidade de participar numerosas vezes dessa prática num altar cujo fogo não se apagava há sessenta anos. Ao mesmo tempo, as sociedades de antigamente mantinham acesos fogos comunitários, que serviam para unir as pessoas, pois estabeleciam uma ligação com os ancestrais.
O fogo é um símbolo muito poderoso, porque desvela a Consciência que subjaz em todas as coisas do mundo material, como a chama que se esconde na lenha. Por exemplo, o samagri, a mistura de ervas medicinais, doces e cereais que se oferece ao fogo, não tem unicamente o objetivo de purificar o ambiente. Junto com o samagri, a pessoa precisa queimar também seu ego; junto com o ghee, precisa oferecer ao fogo seus sentidos, suas emoções, seus pensamentos, não para destruí-los, pois o fogo não destrói, senão para purificá-los, para sutilizá-los, e torná-los mais leves. E é aí que a prática toma outra dimensão. Então, o que torna o fogo sagrado não é o ritual exterior, mas a atitude com que o fazemos. O fogo é símbolo da consciência universal. Seu culto é puro Yoga.
Após estudar e praticar intensamente o yajña, concluo que os vêdicos não eram politeístas. Eram panteístas ou, em todo caso, e embora a palavra possa incomodar alguns, monoteístas. Agni, Indra, Vayu e Rudra não são deuses separados, senão nomes ou formas de uma mesma e única entidade. Da mesma forma que os pranas do corpo, que têm cinco configurações e cinco nomes diferentes, mas são um só. Pessoalmente, prefiro ver os deuses vêdicos como formas de energia, representações simbólicas intuitivas das camadas da existência que transcendem o intelecto.
É impressionante a quantidade de significados que as palavras têm em sânscrito. Você pode fazê-las dizer praticamente o que quiser. Mas está valendo a citação abaixo. Não é possível fazer uma única tradução dos mantras vêdicos. O melhor é lê-los no original. Melhor ainda, é sentir a vibração e o efeito que eles têm sobre o corpo sutil e a consciência. Além do mais, está escrito nos shastras: quem é você para interpretar o Veda? Você sabe em que sílaba começar? E ainda: o Veda tem medo de pessoas com pouco conhecimento, pois elas podem feri-lo. Ou seja, que a tarefa é realmente difícil.
Tão difícil, que Swami Dayananda (1824-1883), um dos maiores estudiosos dos Vedas de todos os tempos e um dos arquitetos do movimento de independência da Índia moderna, descobriu até nove camadas diferentes de significados em cada hino. O princípio básico de interpretação dos Vedas, segundo Dayananda, é que as palavras dos hinos estão em estado fluido (yangika = derivativas). Ou seja, não têm apenas um significado único e estático (rudha). Donde podem interpretar-se de formas muito variadas. Ele foi enfático ao afirmar que todos os nomes dos deuses vêdicos se referiam ao mesmo princípio. Sri Aurobindo disse que, no campo da interpretação dos Vedas, Dayananda deve ser reconhecido como a aquele que descobriu as primeiras chaves de decifração. Ou seja, ele foi quem vislumbrou que, por trás do monte de entulho que eram as interpretações e traduções do século passado, havia algo mais. Removeu o entulho e encontrou uma porta. Arrombou a porta e morreu. Morreu
envenenado por seus inimigos, antes de poder concluir a decifração.
Os mantras são de uma beleza arrebatadora. São tão profundos quanto belos, e não é raro chorar de emoção e felicidade ao fazê-los. Se fazem com uma cadência e uma forma de respirar específica. Precisa igualmente conhecer algumas regras básicas de sânscrito e ter a técnica de vocalizar os mantras inteiros sem respirar.
As traduções feitas pelos sanscritistas ingleses e alemães da época da colônia podiam fazer sentido para eles, mas não fazem para nós. Eles queriam achar nos textos mitologia, politeísmo e história e tentaram dar-lhes esse sentido. No Veda não há história nem politeísmo. Aliás, no Veda inteiro não aparece nem sequer um nome próprio. O exemplo mais claro disto é Vishnumitra. Vishnumitra é um grande rishi, mas o nome não se refere a um sábio de carne e osso. Não é um autor de hinos. Nunca um rishi compôs um hino! Rishis são videntes. Rishi significa aquele que vê. Sabe quem é o rishi Vishnumitra? Seus próprios ouvidos! Vishnu significa "aquele que está em todas partes". Mitra quer dizer amigo. Se refere aos ouvidos, pois o som vem de todas partes. Na física, a gravidade é Vishnumitra, porque a gravidade é o que nos sustenta aqui na Terra. Os hinos são desvelação. Os rishis não são escritores nem poetas. São yogis que viram os mantras durante suas práticas.
Agni (fogo) é a primeira palavra que aparece nos Vedas. Os rishis cultuavam o fogo porque sabiam que amplifica e purifica qualquer coisa que se jogar nele. Agni representa o Sol na Terra. O yajña é um ritual simbólico: alimenta-se o Sol para alimentar a vida, pois a vida não existiria se não houvesse Sol. Entretanto, Agni é mais do que o fogo: é a inteligência viva. Assim como quando você olha para uma pessoa na verdade não está vendo o indivíduo, mas seu corpo, aparência, expressão etc, da mesma forma, quando seus sentidos captam o fogo, podem perceber Agni detrás dele. O fogo é símbolo da vida e da inteligência. Agni é a vida e a inteligência. A aparência não é a pessoa, embora faça parte dela. A expressão desvela a pessoa; o gesto desvela o pensamento. Agni não é o fogo apenas. Lembre disso ao sentar frente a ele.
Por que fazer yajña? O sadhana externo serve e funciona como um guia para o iniciante. No início, as regras são úteis para nos dar orientação. Depois de algum tempo, se tornam desnecessárias. Porém, é preciso ficar muito atento a algo que pode acontecer: fazer os mantras automaticamente. É como diz o provérbio: "quando o sábio aponta para a lua, o tolo olha para o dedo". Não olhe para o dedo! Se você se flagrar fazendo os mantras automaticamente, sem ter presente o significado nem prestar atenção aos efeitos vibratórios, cuidado! Não esqueça que para que a prática seja mesmo Yoga, você precisa estar consciente e presente o tempo todo na experiência, da mesma forma que você está (ou deveria estar) atento quando lê isso. Não perca a consciência. Desligue o automático! Observe-se: você está atento? Está lembrando neste momento da sua própria existência? Está consciente da sua respiração enquanto lê?
Enquanto o sadhana de Yoga se faz individualmente, e funciona da pele para dentro, o yajña é uma prática coletiva. Quanto mais gente, melhor. É uma prática familiar em que a presença da mulher é imprescindível. Rama, o herói do Ramayana, não pôde fazer yajña durante o tempo em que sua esposa Sita esteve seqüestrada nas mãos do demônio Ravana. Os sannyasins, yogis que renunciaram à vida em sociedade, não podem fazer yajña, pois não têm casa. Não tendo casa, não podem ter cozinha. Sem cozinha, não há fogo. Nem yajña.
A rigor, se faz yajña duas vezes por dia, ao amanhecer e ao entardecer. O yajña deve começar entre 25 minutos antes e 25 minutos depois da hora do nascer ou do pôr do Sol. Isso porque, para os hindus, o dia não começa à meia noite, senão no horário sandhya, quando o sol nasce. A prática completa leva uns 40 minutos. Recomenda-se tomar banho antes de começar. Para fazer yajña se precisa um agnikunda ou havankunda, um recipiente onde você fará o fogo sem correr o risco de incendiar a sua casa. O agnikunda pode fazer-se com cinco camadas de tijolos empilhados, caso você tenha bastante espaço. Deve estar sempre orientado para leste, ser quadrado, e medir internamente um cúbito de lado e meio cúbito de profundidade (37 x 37 x 18,5 centímetros). Se você não tiver espaço para construir um yajñashala, o local onde se faz o ritual, pode usar uma bandeja de cobre. Na Índia se acham recipientes de cobre, construídos seguindo medidas específicas. Mas como a Índia não é
logo ali na esquina, e talvez você não planeje ir para lá tão cedo, faça o fogo do jeito que o seu bom senso indicar.
A madeira que se queima deve ser aromática e estar bem seca. Não use madeira pintada, ou de caixas ou móveis desmontados. Na Índia se usam madeiras como tulsi, rudráksha, banyam ou pippal, mas, sendo impossível achá-las aqui, pode usar sem problemas galhos de pinheiro, mangueira ou eucalipto. Prepare a lenha cuidadosamente antes de acender o fogo. Entretanto, se você não tiver agnikunda, nem lenha, nem ghee, nem samagri, nem companhia para praticá-lo, poderá mesmo assim fazer yajña. Só basta ter vontade de fazer os mantras e praticá-los com o coração aberto. Pessoalmente, já fiz yajña mentalmente sobre aviões, barcos, trens e carros. Obviamente não se compara à sensação de estar presente frente ao fogo, sentindo aquele calor e aquela vibração, mas mesmo assim é uma experiência muito forte. O que realmente interessa é a atitude como que se faz:
"Quando, no fogo da Suprema Realidade, no qual até o mais absoluto vazio se dissolve, os cinco elementos, os objetos dos sentidos e a mente são vertidos, usando a consciência como colher, isso é o homa (yajña) verdadeiro."
Vijñanabhairava Tantra, verso 149, p. 137.
O fogo simboliza a presença da luz e do sagrado. É um verdadeiro ser vivente que você alimenta com três tipos de oferenda: gravetos, ghee e samagri. O samagri é uma mistura cuja composição varia, mas que contém cereais, ervas medicinais, flores, frutos, resina de incenso, perfume, açúcar e ghee, ou pelo menos alguns desses ingredientes. Mas não esqueça que, junto com as oferendas, e ainda muito mais importante que elas, é oferecer, como já dissemos, os sentimentos, os órgãos dos sentidos e da ação, o pensamento e a consciência, não para queimá-los no fogo, senão para purificá-los, para torná-los mais sutis. Ao mesmo tempo, visualize que na presença do fogo você desintegra tudo o que não quiser guardar dentro: emoções, pensamentos ou lembranças de experiências que não forem totalmente positivos. Uma pequena lista de sugestões das coisas que você pode purificar no fogo do yajña: o ambiente em que você vive; os relacionamentos com os seus pais, amigos, filhos,
cônjuge e com você mesmo; os elementos do seu próprio corpo; a sua prática e a sua meditação; as suas emoções e sentimentos; o pensamento; a intuição; o corpo sutil, as nadis e os chakras; a sua alma.
Como funciona psicologicamente o yajña? Igual ao antar mouna: você substitui os samskaras ruins por outros bons. Repetimos o sutra de Patañjali:
"Quando surgirem pensamentos indesejáveis, estes podem ser vencidos convivendo-se com seus opostos."
Precisamos conhecer a tradução, ou pelo menos ter presente o significado dos mantras, pois eles têm esse objetivo: limpar, purificar e fazer uma resignificação dos conteúdos da consciência. Pois a cada vez que você diz svaha, que significa, entre outras coisas, "tudo está perfeitamente bem", você se reprograma para que, de fato, tudo fique perfeitamente bem. Svaha também significa "ofereço a oblação".
Os mantras devem pronunciar-se lenta e claramente: uma só exalação para cada mantra, respeitando as vogais curtas e longas, estas últimas representadas pelo acento. As oferendas se vertem no fogo a cada vez que se diz svaha. Quando se faz mantra mentalmente durante o pranayama, a prática recebe o nome de prana yajña, sacrifício (sacralização, aliás) do prana. Esses mantras são expressão da lei e da verdade universal (dharma e rta) e servem para harmonizar-nos com elas. Formam parte da essência do ser humano e todos podem fazê-los, pois não estão limitados por fronteiras temporais ou culturais. Valem para todos os homens em todos os tempos, e nos revelam a nossa mais profunda natureza.
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Extraído do livro Yoga Prático, de Pedro Kupfer
Os mantras I - Achamana sutra
Antes de começar, sentado em posição de meditação frente ao agnikunda, se fazem três libações junto com estes mantras. Pegue um pouco de água na palma da mão direita. Faça o primeiro mantra e beba essa água. Proceda da mesma forma com os outros dois mantras. Depois, lave a mão.
1. Om amritopastaranamasi svaha.
2. Om amritapidhanamasi svaha.
3. Om satyam yashah sri mayi sri srayatam svaha.
Tradução
1. O Om imortal é o meu sustentador (minha cama). Svaha.
2. O Om imortal é o meu cobertor. Svaha.
3. Que estejamos sempre repletos de verdade, glória e prosperidade. Svaha.
Taittiriya Áranyaka, X:32-35
Significado
Om, protetor de todo o existente, que estejamos protegidos da dor exterior e da dor interior. Que alcancemos o conhecimento verdadeiro, a prosperidade e o crescimento interior.
II - Anga sparsha sutra
Em seguida, fazem-se as sete abluções. Coloque um pouco de água na palma da mão esquerda. Molhando os dedos médio e anular da mão direita a cada mantra, toque as diferentes partes do corpo sucessivamente, começando sempre pelo lado direito. Ao concluir, lave as mãos com um pouco de água. Estes mantras equivalem à circunvalação do corpo que se faz durante o kaya sthairyam. Concentre-se no sentido do mantra e em cada parte do corpo ao vocalizar.
1. Om vang ma asye astu (boca).
2. Om nasor me prano astu (narinas).
3. Om akshnor me chakshur astu (olhos).
4. Om karnayor me shrotram astu (orelhas).
5. Om bhavor me balam astu (braços).
6. Om urvor me ojo astu (pernas).
7. Om aristani me angani tanustanva me saha santu (o corpo inteiro).
Tradução
1. Om. Que eu tenha sempre palavras claras na minha boca.
2. Om. Que tenha sempre energia nas minhas narinas.
3. Om. Que tenha sempre visão penetrante nos olhos.
4. Om. Que tenha sempre audição apurada nos ouvidos.
5. Om. Que tenha sempre força nos braços.
6. Om. Que tenha sempre vigor e resistência nas pernas.
7. Om. Que todo o meu corpo esteja sempre saudável e livre de doenças.
Paraskara Grihasta Sutra, II:3-25
III - Agni adhana
Havendo colocado a madeira no agnikunda, acende-se o fogo recitando este mantra:
Om bhur bhuvah svah
Om bhur bhuvah svardyauriva
bhumna prithiviva varimna tasyaste
prithivi devayajani prishthe
agnimanna adamanna dyaya adadhe.
Tradução
O Om é Ser, Transformação e Bem-aventurança.
O Om é vasto como o céu e amplo como a terra.
Ó terra, altar do sacrifício da Natureza, sobre ti coloco a lenha,
para que possamos ganhar boas colheitas (boa alimentação).
Yajur Veda, III:63.11
Significado
O fogo representa a energia que anima os três planos da existência (bhur, bhuva, svaha): terra, atmosfera e céu. O Om é vida e bem-aventurança, é aquele que elimina a dor. O agnikunda, lugar onde arde o fogo, representa o próprio universo. O fogo consume as oferendas e purifica o ambiente e as pessoas.
IV - Agni pradipana
Coloque mais alguns gravetos finos na fogueira para alimentá-la. Enquanto o fogo começa a arder, se faz este mantra:
Om udbudhya svagne pratijagrhi
tvamishtapurte samsrije-tham ayam cha
asmin tasadhasthe adhyttar asmin
vishvedeva yaja manashcha sidata.
Tradução
Om. Que o fogo desperte e se eleve.
Que o Ser, junto com o purohit e estas pessoas,
realizem trabalhos pelo bem-estar individual e pelo de todos.
Que as pessoas que estão aqui sentem junto com o purohit.
Yajur Veda, XV:54
Significado
Om. Que o fogo, símbolo da inteligência e a realização, cresça no interior das pessoas. Que os nossos amigos trabalhem junto conosco pelo interesse social e pessoal. Que nos apoiemos incondicionalmente no caminho do crescimento. O purohit é o oficiante da cerimônia.
V - Tri samidadhana
Oferecem-se ao fogo três gravetos finos molhados em ghee. O primeiro, com este mantra:
Om ayam ta idhma atma
jata veda stene dhyasva
vardhasva cheddha vardhaya
chasman prajaya pashubhir
brahma varcha senan na dyena
samedhaya svaha
idam agnaye jata vedase idam na mama.
Tradução
Om. Fogo, iluminador e senhor de todo o existente,
este graveto é teu corpo.
Que possas crescer e alimentar tua luz com ele.
Ilumine-nos e enriqueça-nos com uma boa prole,
gado, glória e alimento saudável.
Mentalizamos por todos (svaha).
Esta oblação é para o fogo. Não para mim
Ashvalayana Grihasta Sutra, I:10.12
Significado
Om, fonte da energia simbolizada pelo fogo, expressamos aqui o nosso desejo de abandonar nossos objetivos egoístas oferecendo combustível ao fogo e negando nossa possessividade. Trabalhemos pelo bem de todos os seres vivos. Que nunca falte o necessário para vivermos uma vida feliz.
O segundo graveto, com estes dois mantras, no segundo svaha:
Om samidhagnim duvasyat ghritair-bodhayat
atithim asmin havya juhotana svaha
idam agnaye idam na mama.
Om susamiddhvaya shochishe ghritam
tibram juhotana agnaye jata vedase svaha
idam agnaye jata vedase idam na mama.
Tradução
Om. Alimente o fogo com madeira seca.
Receba o convidado (Agni) com manteiga clarificada.
Coloque depois as oferendas.
Tudo está perfeitamente bem.
Isto é para o fogo. Não para mim.
Om. Ofereça manteiga clarificada
e quente ao fogo onipresente.
Tudo está perfeitamente bem.
Isto é para o fogo. Não para mim.
Yajur Veda, III:1-2
Significado
Alimentamos o fogo resplandescente, não para atingir os nossos fins egoístas, senão para beneficiar todos os seres vivos. Que tenhamos sucesso nessa tarefa. As oferendas são um símbolo dessa nossa disposição. Elas queimam e se dispersam no ambiente para purificar a atmosfera e concretizar as nossas intenções. Que possamos dedicar o melhor de nós para o bem-estar coletivo.
O fogo envolve as partículas sutis das substâncias oferecidas e as desintegra. Essas partículas se misturam à energia vital do ambiente, para purificá-lo. Que este ato possa trazer saúde, prosperidade e felicidade para todos.
O terceiro, com este mantra:
Om tantva samidbhir agniro
ghritena varddhaya amasi
brihachocha yavishthya svaha
idam agnaye agnirase idam na mama.
Tradução
Om. Ó fogo vivificante, te alimentamos
com madeira seca e ghee para que possas brilhar.
Tudo está perfeitamente bem.
Esta oferenda é para o fogo. Não para mim.
Yajur Veda, III:3
Significado
O fogo envolve as partículas sutis das substâncias oferecidas e as desintegra. Essas partículas se misturam à energia vital do ambiente, para purificá-lo. Que este ato possa trazer saúde, prosperidade e felicidade para todos.
VI - Pañcha ajyahuti
Depois fazem-se cinco oferendas de ghee, repetindo cinco vezes este mantra:
Om ayam ta idhma atma
jata veda stene dhyasva
vardhasva cheddha vardhaya
chasman prajaya pashubhir
brahma varcha senan na
adyena samedhaya svaha
idam agnaye jata vedase idam na mama.
Tradução
Om. Fogo, iluminador e senhor de todo o existente,
esta manteiga é teu sangue.
Que possas crescer e alimentar tua luz com ela.
Ilumine-nos e enriqueça-nos com uma boa prole,
gado, glória e alimento saudável.
Mentalizamos por todos (svaha).
Esta oblação é para o fogo. Não para mim.
Ashvalayana Grihasta Sutra, I:10.12
Significado
Este mantra se repete, com a diferença que antes idhma significava graveto, e neste contexto significa ghee. Essa palavra encaixa nos dois contextos, pois idhma significa etimologicamente inflamar, e ambos os elementos, madeira e manteiga, servem para esse propósito.
VII - Jala-prasechana
Se fazem estes quatro mantras aspergindo água em torno do altar.
No lado leste:
1. Om adite anumanyasva.
No lado oeste:
2. Om anumate anumanyasva.
No norte:
3. Om sarasvati anumanyasva.
Em todos os lados:
4. Om deva savitah pra suva yajñam
pra suva yajñapatim bhagaya
divyo gandharvah ketapuh ketannaha
punatu vachaspatir vacham nah svadatu.
Tradução
1. Om. Ó Mãe infinita, favoreça-nos.
2. Om. Ó Mãe reconciliação, favoreça-nos.
3. Om. Ó Mãe iluminadora, favoreça-nos.
Gobhila Grihasta Sutra, I:31-33 4.
4. Om. Aceite o nosso sacrifício
e leve o sacrificador para a prosperidade.
Que o resplandecente sustentador da terra,
o purificador dos pensamentos, purifique os nossos.
Que o Senhor da Palavra torne doces (eloqüentes)
as nossas línguas (os nossos discursos).
Yajur Veda, XXX:1
Significado
Que a água, que tem o poder da coesão, guarde o nosso fogo sacrifical no leste.
Que a água, que beneficia a todos, proteja o nosso fogo no oeste.
Que a água que flui conserve o fogo no norte.
Que as águas nos motivem a agir corretamente.
Que purifiquem os nossos corpos e os nossos pensamentos.
VIII - Aghara vahuti
Duas oferendas de ghee para o fogo, junto com estes mantras. A primeira no norte (lado esquerdo do agnikunda), a segunda no sul (lado direito):
1. Om agnaye svaha idam agnaye idam na mama.
2. Om somaya svaha idam somaya idam na mama.
Duas oferendas de ghee no centro do fogo:
3. Om prajapataye svaha idam prajapataye idam na mama.
4. Om indraya svaha idam indraya idam na mama.
Tradução
1. Om. Para Agni. Svaha. Isto é para o fogo. Não para mim.
2. Om. Para o Abençoado. Svaha. Isto é para Soma. Não para mim.
3. Om. Para o Senhor das Criaturas. Svaha. Isto é para Prajapati. Não para mim.
4. Om. Para o Senhor Resplandescente. Svaha. Isto é para Indra. Não para mim.
Gobhila Grihasta Sutra, I:8,24; I:8,4-5
Significado
Que todas as criaturas alcancem a felicidade através deste ato. Oferecemos estas oblações às forças da natureza como um símbolo da nossa intenção de aniquilar o egoísmo.
IX - Homa-karana mantras
Quatro oblações de ghee, doces e samagri (mistura de ervas medicinais), oferecidas com os dedos polegar, médio e anular da mão direita, junto com os quatro seguintes mantras. Para o agnihotra matinal:
1. Om suryo-jyotir jyotih-surya svaha.
2. Om suryo-varcho jyotir-varchah svaha.
3. Om jyotih-suryah suryo-jyotih svaha.
4. Om sajurdevena savitra sajur ushasendra vatya jushanah suryovetu svaha.
Tradução
1. Om. Sol, a Luz. Luz, o Sol. Svaha.
2. Om. Sol, o Brilho. Luz, o Brilho. Svaha.
3. Om. Luz, o Sol. Sol, a Luz. Svaha.
4. Que o Sol que ilumina, junto com a Força criadora
e a aurora, se sintam felizes de vir aqui e desfrutar. Svaha.
Yajur Veda, III:7-8
Significado
O Sol representa a luz e o resplandor da Consciência. Ele é a fonte da luz e da vida que anima o mundo. O mundo do que se move e o do que permanece imóvel dependem dele. Ele é a fonte da ação e do movimento. Que através destas oferendas nunca nos faltem ação e movimento. Que o Sol e a aurora resplandescente aceitem essas oferendas. Que este seja um ótimo dia para todos.
Para o agnihotra vespertino:
1. Om agnir-jyotir jyotih-agnir svaha.
2. Om agnir-varcho jyotir-varchah svaha.
3. Om agnir-jyotir jyotir-agnir svaha.
4. Om sajurdevena savitra saju ratryendra vatya jushano agnirvetu svaha.
Tradução
1. Om. Fogo, a Luz. Luz, o Fogo. Svaha.
2. Om. Fogo, o Brilho. Luz, o Brilho. Svaha.
3. Om. Fogo, a Luz. Luz, o Fogo. Svaha.
4. Om. Que o fogo, junto com a Força criadora
e a noite, se sintam felizes de vir aqui e desfrutar. Svaha.
Yajur Veda, III:9-10
Significado
O fogo representa a luz da Inteligência. O resplandor do fogo representa o brilho da Consciência. As três fontes de luz e energia são o Sol no céu, a energia dos trovões na atmosfera e o fogo sobre a terra. À noite, dependemos do fogo e do calor. Que este fogo sagrado aceite as nossas oferendas e as esparja na atmosfera. Que esta seja uma ótima noite para todos. O terceiro mantra se faz mentalmente. Só se pronuncia o Om e o svaha.
X - Ubhaykalik mantrah
Estes são os oito mantras finais, que se fazem em ambos os agnihotras, matutino e vespertino, oferecendo samagri e ghee ao fogo a cada vez que se repete a interjeição svaha (tudo está bem).
1. Om bhur agnaye pranaya svaha
idam agnaye pranaya idam na mama.
2. Om bhuvar vayave apanaya svaha
idam vayave apanaya idam na mama.
3. Om svaradityaya vyanaya svaha
idam svaradityaya vyanaya idam na mama.
4. Om bhur bhuvah svar agni vay vaditye
bhyah prana apana vyane bhyah svaha
idam agnaye vay vaditye bhyah
prana apana vyane bhyah idam na mama.
5. Om apo jyoti raso amritam
brahma bhur bhuvah svar Om svaha.
6. Om yam medham devaganah pitarash
chopasate taya mamadya medhaya
agne medhavinam kuru svaha.
7. Om vishvani deva davitar duritani para
suva yad bhadram tanna a suva svaha.
8. Om agne naya supatha raye asman
vishvani deva vayunani vidvan yuyo
dhyas majjuhura anameno bhuyishtham
te nama uktim vidhema svaha.
Tradução
1. Om. Para a causa da existência (bhur),
para Agni. Para o prana. Svaha.
Isto é para Agni e o prana. Não para mim.
2. Om. Para a causa do devir (bhuva),
para Vayu. Para apana. Svaha.
Isto é para Vayu e apana. Não para mim.
3. Om. Para a causa produtora de bem-aventurança (svah),
para Aditya (o Sol). E para vyana (o ar vital). Svaha.
É para o Sol e para vyana. Não para mim.
4. Om. Para bhur, bhuva e svah;
para Agni, Vayu e Aditya; portadores da natureza
do prana, do apana e do vyana. Svaha.
Isto é para Agni, Vayu e Aditya.
E para prana, apana e vyana. Não para mim.
5. Om. Para as águas, a luz e a doçura (o amor).
Para a imortalidade, para Brahma.
Para bhur, bhuva e svah. Om. Svaha.
6. Om. Dê-nos sabedoria hoje.
Dê-nos o conhecimento que os sábios e ancestrais
tanto valoram e desejam.
Yajur Veda, XXXII:14
7. Om. Que possamos ver-nos livres de doenças e maldade.
Que tenhamos tudo o que for bom e benéfico. Svaha.
Yajur Veda, XXX:3
8. Om, que possas nos conduzir no caminho da prosperidade.
Que possamos nos manter afastados do mal.
Com humildade, te oferecemos esta respeitosa homenagem. Svaha.
Yajur Veda, XL:16
Significado
1. Que estas oblações, dirigidas ao fogo terrestre, possam dar vitalidade para todos os seres. Que todas as criaturas do universo se beneficiem com este ato.
2. Que estas oferendas alcancem o ar vital, que elimina o sofrimento dos seres vivos. Que o vento carregue as substâncias purificadoras para levar saúde e prazer a todos os organismos vivos. Este ato é para o benefício de todos, não apenas o nosso.
3. Que estas oblações oferecidas por nós alcancem o Sol que nos dá vida, calor e felicidade. Que as substâncias purificadoras cheguem até ele e se combinem com a energia solar para purificar o espaço inteiro. Este ato é para o benefício de todo o universo.
4. Estas oferendas são para o fogo terrestre, o ar da atmosfera e o Sol celestial, para que todos respirem com vitalidade, para que todos eliminem as aflições e sejam felizes. Que os agentes naturais levem a minha oferenda para os quatro cantos do universo. Que todos e cada um se beneficiem dela. Humildemente ofereço esta oblação (svaha) para o benefício da humanidade. Isto é para a humanidade, não para mim. O poder da vida onipresente, o prana, se manifesta em todos os planos da criação (bhur, bhuva, svaha): na terra, ele aparece como o fogo que aquece, nutre e anima. Na região atmosférica se manifesta como o ar que sustenta a vida. No céu, é visível na forma do Sol, fonte de calor e energia.
5. O Om é onipresente, é a causa de todas as formas de vida, o aniquilador da dor e a fonte de toda felicidade. Oferecemos esta oblação ao Om eterno, como retribuição pela vida que temos.
6. Assim como os rishis e os protetores da sociedade da antigüidade obtiveram iluminação e sabedoria eternas através da prática, que nós possamos igualmente tê-las e afastar as trevas da ignorância.
7. O Om é a força geratriz do universo. Através dessa concientização dissipam-se a miséria existencial e o mal. Que obtenhamos todas as virtudes e que possamos continuar no caminho do crescimento.
8. Que através desta prática agucemos as nossas faculdades intelectuais para que elas possam nos ajudar a continuar no caminho da verdade e afastados da maldade. Que fiquemos a cada dia mais próximos da emancipação.
Aqui se fazem um (ou vários) japa mala(s) de 11, 54 ou 108 repetições de Gayatri e/ou Triyambaka mantra:
Om bhur bhuva svaha
tat savitur varenyam
bhargo devasya dhimahi
dhyo yo nah prachodayat
svaha.
Tradução
Om. Contemplemos o excelente esplendor
de Savitri, o divino Sol vivificante
presente na terra, na atmosfera e no céu.
Que ele inspire a nossa visão (conhecimento intuicional).
Svaha.
Rig Veda, III:62
Significado
Bhur, bhuva e svaha são os três planos da existência. Na teoria vêdica das equivalências (bandhu), essa divisão tripartida do universo tem muitos níveis de significados. Refere-se aos três mundos: o do infinitamente grande, o humano, e o do infinitamente pequeno; aos três gunas, as três qualidades da natureza: inércia, ação e equilíbrio (tamas, rajas e sattwa); ou, ainda, ao paralelo que existe entre as estruturas da consciência e da Natureza. Ou seja, assim como é acima, assim é embaixo; o macrocosmos reflete o microcosmos, etc. Savitri, o Sol, é símbolo da consciência e ao mesmo tempo da kundalini. O Gayatri mantra se faz para celebrar a existência e harmonizar-nos com o poder de transformação presente na natureza. Este mantra é um convite à contemplação da força que move o macrocosmos, o microcosmos e o homem.
Om triyambakam yajamahe
sugandhim pushtivardhanam
urva rukam iva bandhanan
mrityor mukshiya mamritat
svaha.
Tradução
Om. Peço àquele que tem três olhos (Shiva),
o mestre dos sentidos e sustentador de tudo o que cresce,
que me liberte do ciclo de condicionamentos e mortes.
Assim como a fruta cai quando está madura,
me leve da morte à imortalidade.
Svaha.
Rig Veda, VII:59-12
As oblações finais
Ao fazer estes três últimos mantras, verta o resto do samagri e o ghee no fogo:
9. Om sarvam vai purnam svaha
Om sarvam vai purnam svaha
Om sarvam vai purnam svaha.
10. Om shantih shantih shantihi. Hari Om.
Tradução
9. Tudo está perfeitamente bem no mundo.
10. Om paz, paz, paz. Hari Om.
Com essas últimas três oblações conclui o yajña. Entretanto, após o final, se faz ainda o shantipath, invocação de paz. Path significa repetição em voz alta, invocação ou recitação. Existem vários shantipaths nos Vedas e nas Upanishads. Apresentamos aqui os mais conhecidos e largamente usados. Como os outros mantras, o shantipath deve fazer-se com os olhos fechados, concentrando-se na vibração do som no interior da cabeça, no significado do mantra e, principalmente, na intenção e no que você quer obter dele. No caso, paz. Muita paz para todos.
Asato ma sadgamaya
tamaso ma jyotirgamaya
mrityor ma amritam gamaya
sarvesham svasti bhavatu
sarvesham shantir bhavatu
sarvesham purnam bhavatu
sarvesham mangalam bhavatu
loka samasta sukhino bhavantu.
Tradução
Conduza-me da falsidade à verdade.
Da escuridão (ignorância) à luz.
Da morte à imortalidade.
Que todos tenham saúde.
Que todos vivam em paz.
Que todos vivam em plenitude.
Que todos tenham uma vida auspiciosa.
Que o universo viva em estado de felicidade.
Brihad Aranyaka Upanishad, I:3, 28
Om dyauh shantir antariksham
shantih prithivi shantir apah
shantir aushadhayah shantih
vanaspatayah shantir vishvedeva
shantir brahma shantir sarvam
shantih shantir eva shantih sa ma
shantir edhi.
Tradução
Om. Que haja paz no céu.
Que haja paz na atmosfera.
Que haja paz na terra.
Que as águas tragam paz para todos.
Que as ervas medicinais tragam paz para todos.
Que as plantas tragam paz para todos.
Que as forças da natureza e os sábios dêem paz para todos.
Que a paz e a harmonia reinem no universo inteiro.
Que a paz, somente a paz, prevaleça em todos os lugares.
Que eu também tenha essa paz.
Yajur Veda, XXXVI:17
Ou ainda pode fazer-se o Shanti mantra:
Om sahanavavatu
sahanaubhunaktu
sahavíryam karva vahai
tejasvinavadhitamastu
ma vidvishavahai
Om shanti shanti shantihi.
Tradução
Que todos estejamos protegidos e unidos.
Que todos estejamos nutridos e unidos.
Que possamos trabalhar juntos,
unindo nossas forças pelo bem da humanidade.
Que nosso saber seja luminoso e realizador.
Que não exista inimizade entre nós.
Om. Que haja paz, paz, paz.
Taittiriya Upanishad, Brahmavalli
No final da prática, com as palmas das mãos voltadas para as chamas, mentalize que você recolhe de volta tudo o que foi purificado no fogo. Lembre que yajña é o mesmo que Yoga. Yajña significa sacralização, consagração. O trabalho do Yoga passa por sacrificar tudo o que for exterior e inferior, facilitando o caminho para que se manifeste a nossa verdadeira natureza profunda.
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Extraído do livro Yoga Prático, de Pedro K
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