Todos os dias, ao nos prepararmos para sair à rua nos deparamos com a inevitável questão: O que vestir? Ao que a maioria de nós equaciona com um “bom senso” particular.
As regras da sociedade em que vivemos ditam que existe uma roupa apropriada para cada ocasião. Se vamos nos divertir, procuramos algo confortável, despojado; se nos dirigimos ao trabalho, algo que nos dê uma apa-rência mais sóbria e seja condizente com a função que exercemos. Até aí, é senso comum.
Mas o que acontece quando estamos nos preparando para participar de um trabalho de Um-banda?
Servir como médium num Templo, na maioria dos casos exige que se use roupa branca. Nada espalhafatoso. Apenas peças simples, discretas, na cor branca. Algum problema? Parece que sim.
É muito comum que os vestiários dos Templos fiquem muito movimentados antes do início dos trabalhos porque a grande maioria dos médiuns preferem se vestir lá. É claro que há as mais variadas razões: alguns vêm diretamente do seu local de trabalho ou estudo, outros utilizam o transporte público e temem que a roupa possa sujar, e ainda há outros que preferem não sair de branco na rua.
Não é de hoje que as cores ou a forma de se vestir identifica um determinado grupo. Na sociedade hindu, há séculos a cor dos sáris identificam a divindade de devoção da pessoa. No mundo todo, as mulheres muçulmanas ocultam seus cabelos sob véus escuros, assim como os padres católicos utilizam suas batinas sobre as quais são colocados os paramentos que identificam a hierarquia e a natureza dos seus rituais. Dentro desse contexto, umbandistas vestem o branco.
Não haveria muito mais a acrescentar se não se percebesse o incômodo que muitos irmãos sentem em apresentar-se como umbandistas. Se o nosso país é laico, isto é, nos garante constitucionalmente a liberdade de credo e religião, que mal há em ser identificado pela religião que professamos?
Existe um adágio que afirma que to-das as religiões chegam ao Pai Maior através de caminhos diferentes. A Umbanda se caracteriza pelo Amor e Caridade, que, ao que se sabe, são sentimentos universais de fraternidade que não deveriam envergonhar quem os aplica em sua vida prática.
Há quem atribua “sua discrição” para evitar a intolerância por parte de outras pessoas, o que, diga-se de passagem, é crime e tem sanção penal prevista.
Cada ser humano tem características físicas próprias, que o tornam único e não é incomum encontrar pessoas que se sintam inferiorizadas por fugir ao que é considerado “padrão”.
Somos diferentes, sabemos que os demais são diferentes, e naturalmente, aquilo que não faz parte do nosso dia a dia nos desperta a curiosidade.
Quem nunca passou por uma freira, e ainda que rapidamente, não olhou detidamente seu hábito? Então, por que se sentir discriminado quando se destaca dos demais ao vestir o branco? Umbandista, sim. E daí?
Será que o preconceito é mesmo dos outros? Será que não é você que não conhece suficientemente os fundamentos da sua religião e não consegue identificar-
Assim como o hindu ostenta seu sári, as muçulmanas seus véus e os padres sua batina, vestir-se de branco para o umbandista deve ser motivo de orgulho e não resignação.
Vestir o branco representa orgulhosamente hastear a bandeira da Umbanda, e externar sua fé nos seus Sagrados Orixás.
É um orgulho que vem da sua convicção em estar fazendo algo em benefício do seu semelhante e conseqüentemente agindo em favor da sua própria evolução.
Afinal só evoluímos quando nos aceitamos plenamente. Física e espiritualmente.
por Laura Carreta dos Santos
Extraído do Jornal de Umbanda Carismática- JUCA edição 003 outubro/06
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