Por favor, preencha a atmosfera com a vibração sublime dos Santos Nomes:
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segunda-feira, 2 de julho de 2007

Ogum – O Orixá Guerreiro

A energia de Ogum é tão simples que fica difícil para nós defini-la. Ela deve ser vista como uma combinação de energia física e de integridade. A descrição de Ogum como aquele que desbrava os caminhos para que a civilização possa crescer é uma maneira simples de expressar esta energia física. Essa energia é sempre expressa com uma necessidade incontida de ação física. Nosso deus guerreiro, simplesmente, tem sempre de estar fazendo algo físico. É uma energia que não tem fim e não consegue parar.

A sexualidade exaltada de Ogum é outra expressão deste sentido extremamente físico, onde Ogum consegue combinar sua praticidade com um momento de paz e relaxamento.

As muitas histórias que descrevem Ogum como um deus que prefere estar só é um resultado lógico desta energia incrível que se basta a si mesmo. Aliando isso a uma completa falta de habilidades sociais, pois sempre prefere a ação à capacidade de diplomacia. Naturalmente, justiça e integridade são ingredientes essenciais para Ogum. É claro, essa energia não pode parar nunca, e sempre que uma pessoa mente, quebra sua palavra, se comporta de forma imoral está colocando obstáculos num caminho em que se é obrigado a caminhar. Esse tipo de atitude interfere na clareza da expressão física de Ogum. Dessa forma, Ogum não tolera nenhum comportamento desonesto. Ogum pertence tanto ao lado positivo quanto negativo dos orixás. Isso se deve à sua resposta muito rápida e fulminante, com um julgamento veloz e com resultados, às vezes, indesejados.

Um pouco de lenda

No Brasil, Ogum é identificado como São Jorge por sua imagem do guerreiro de armadura e lança, subjugando um dragão. Como vemos um santo católico, utilizando muito metal e superando seu inimigo, isso reforça a identificação do orixá com São Jorge.

Devemos deixar claro, no entanto, que o santo católico não é o orixá, ou vice-versa. Isso foi somente uma conveniência que os primeiros adoradores da América desenvolveram para esconder suas verdadeiras convicções para impedir que fossem perseguidos pelos jesuítas. Dessa forma, foi inventado um sistema que permitiu a adoração dos orixás no Novo Mundo. Apesar disso, não sou como muitos dos puristas, que exigem a exclusão de qualquer imagem católica que seja identificada com os orixás, como se isso contaminasse o nosso culto. Isto, na verdade, desrespeita a sabedoria dos antepassados que durante 500 anos preservaram a adoração dos orixás na América. Claro, nenhuma imagem católica é necessária para a adoração correta aos orixás, mas, se alguém quer ter uma imagem de São Jorge ou Santa Bárbara na sua casa, não devemos criticá-los ou ofendê-los por isso.

Ogum é a contraparte africana de Vulcano, Hephaístus para os gregos. É o deus-ferreiro romano. Ele é o orixá do ferro e do aço. Considerando que a forja começou na Idade do Ferro, acredito que o nosso Ogum precede Vulcano e Haphaístos, porque estas culturas se desenvolveram bem depois da Idade do Bronze. Mas, é mais um exemplo de como as energias universais se manifestam em diferentes culturas. Na cultura grega, Afrodite era a legítima esposa de Hephaístos, que tinha um caso amoroso com Ares, o deus da guerra, que nos remete ao triângulo amoroso de Ogum, Oyá e Xangô. A mesma história básica com leves alterações. Este mito grego poderia muito bem ter se originado na história de Xangô, que rouba a esposa de Ogum. Afinal, Xangô era um grande guerreiro. Mas é pura especulação minha, sem nenhuma prova científica.

Ogum é associado com São Pedro na tradição Lucumi. Não sou muito favorável a essa associação, mas, respeito à tradição dos nossos antepassados. Porém, como já declarei, não é necessário ter uma imagem católica para cultuar os orixás, pois elas não fazem parte de qualquer “fundamento” dos orixás. Considerando que Santeria, Lucumi, Vodu e Candomblé sempre existiram lado a lado com a igreja católica, não vejo nenhum mal em identificar os orixás com santos católicos. Ajudou muito em séculos passados e evitou muita perseguição.

Na cultura iorubá, Ogum é força bruta, o poder para derrotar os inimigos. É o deus do sacrifício e o dono do aço e da lâmina que são utilizados para fazer os sacrifícios aos orixás. Por isso, Ogum sempre é o primeiro orixá a comer, pois o sangue de qualquer sacrifício sempre toca a faca sacrificatória antes de cair no orixá a quem o sacrifício é destinado. Ogum faz guerra contra nossos inimigos. Seria muito agradável se não houvesse nenhuma guerra no mundo, e nenhum inimigo, mas, devido à nossa natureza, sempre haverá discussão e diferenças. Mesmo que as lutas não sejam feitas num nível físico, guerras espirituais ou psíquicas sempre existirão. E, claro, há sempre a guerra entre o bem e o mal. Ogum é a defesa contra nossos inimigos, materiais ou espirituais. No entanto, eu sempre repito, DEFESA, pois não devemos utilizar os orixás para atacar agressivamente nossos adversários. Mas Ogum nos defende das perseguições injustas e faz a justiça necessária. Ogum tem uma grande afinidade com os cachorros, da mesma maneira que Odé (Oxossi).

Na sociedade moderna, podemos identificar o espírito de Ogum nas mais diferentes profissões, principalmente àquelas que sempre estão descobrindo coisas novas, como os cientistas, os geradores de tecnologia, aqueles que sempre estão possibilitando um grande desenvolvimento da humanidade. Assim como as estradas de ferro trouxeram o progresso, hoje a informática é o maior meio de progresso humana e a principal geradora de desenvolvimento. Ogum sempre foi o desbravador, aquele que dominou as novas tecnologias de fundição do aço, propiciando um grande avanço da sua civilização.

No Haiti, Ogum é chamado de Ogou. Da mesma forma que há muitos caminhos de Ogum, existe o Ogou Fer, Ogou Bhatala, Ogou Feraille, Ogou Xangô, Ogou Balendyo, etc. É um Loa extremamente importante. É encontrado no Rada e nos ritos de Petro. Os Loas Rada são brancos ou frescos, que correspondem a Obatalá, Oxum, etc. Os Loas Petro têm mais calor e são associados com a cor vermelha e possuem influência do Congo e dos ritos Bantos. No Haiti existem muitos filhos de Ogou, isso se deve ao fato que Ogou foi muito propiciado nos tempos que os escravos do Haiti derrotaram o exército de Napoleão. No Brasil, por exemplo, existem muitos filhos de Odé (Oxossi), devido à influência de grandes florestas tropicais, onde Odé, certamente, se sente em casa.

Ogum também é associado às estradas de ferro na América. Isso se deve ao fato de que os trens eram feitos de ferro e aço. A estrada de ferro é de aço. Freqüentemente são oferecidos “ebós” a Ogum nas estradas de ferro. Muitos assentamentos de Ogum possuem um pedaço de trilho de trem junto com suas ferramentas. Este é um exemplo da evolução na adoração ao orixá. Nas épocas distantes, quando os antepassados cultuavam Ogum na África, não existiam estradas de ferro. Com a invenção das locomotivas e suas estradas e levando em conta que Ogum é o deus do ferro e do aço, foi feita essa associação. Embora estes antepassados sejam criticados, eu os admiro. Eles tiveram que suportar a escravidão e a dor para não deixar que sua adoração, no Novo Mundo, tivesse fim. Pelos seus esforços, esta adoração foi ampliada e aberta a tudo, mesmo à cor da pela e à diferença cultural.

Quando Ogum não estava forjando suas ferramentas ou fundindo metal ou em suas guerras, passava muito tempo na floresta. Por isso, ele tem uma grande identificação com Exu e Odé e com as florestas, tirando poder dos elementos e dos espíritos que vivem lá. Estes orixás são muito conectados à floresta e suas cerimônias têm de estar relacionadas a esta conexão. A influência de Ogum não pode ser menosprezada, pois ele é chamado de “a mão esquerda de Olofim”, enquanto Xangô é chamado de “a mão direita de Olofim”. Na cultura hindu, Shiva é a terceira personagem da trindade dos deuses principais. É o aspecto destruidor e como tal tem conexões com Ogum. Este aspecto particular é chamado de Mayadevi e é considerado a fonte de poder. Este aspecto de Shiva, com suas serpentes me faz lembrar de Ogum Avagã, que é conectado com as serpentes. Shiva, em suas representações, sempre aparece muito calmo, em estado de meditação, nos mostrando que o poder não deve ser mostrado para si mesmo com agressividade. Os que têm poder não têm de provar aos outros que possuem este poder, da mesma forma que os que possuem conhecimento não precisam ficar expondo continuamente aos outros o que eles sabem. Se eu fosse comparar os orixás com a trindade hindu, teria Orunmilá como Vishnu, Oxalá como Brahma e Ogum como Shiva. Isto colocaria Ogum numa posição elevada na nossa maneira de ver os orixás. A cosmologia dos Orixás é diferente e os dois sistemas não podem ser comparados igualmente. Porém, sabemos que aqueles que possuem um grande espírito guerreiro, reconhecerão imediatamente o orixá Ogum. É o melhor aliado que podemos ter, em qualquer situação.

Ogum Iê, patakori!

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