Obá é considerada a esposa legítima de Xangô. É considerada o Orixá da casa e do matrimônio, representando a esposa dedicada que espera pelo marido. Na África, Obá é considerada, também, uma deusa dos rios, como Oxum. Diz-se que o Rio Oxum conhece o Rio Obá, e suas águas ficam muito agitadas cada vez que elas lutam por Xangô. No Brasil a adoração a Obá está muito apagada, assim como em outros locais, onde a adoração aos orixás é mais pronunciada, como os países do Caribe. No entanto, na África, o culto a Obá continua sendo muito forte.
Em diversas regiões, Santa Catarina é a santa católica que representa Obá. A razão para isto não está clara, mas talvez, seja porque a imagem da santa esteja com a cabeça embrulhada. Isto poderia estar relacionado ao fato de que Obá teve de embrulhar sua cabeça no dia em que cortou a orelha para fazer uma comida para Xangô, pensando que iria lhe agradar.
A lenda conta que Obá tinha muito ciúme de Oxum, porque esta tinha muita habilidade para atrair o Rei e um dia Obá perguntou a Oxum qual era seu segredo. Oxum lhe disse que a maneira de chegar ao coração de um homem era através do estômago. Como Oxum estava com a cabeça toda coberta, contou a Obá que tinha feito uma refeição para Xangô com a sua orelha como principal ingrediente e que isto tinha encantado Xangô, de forma que nunca mais ele pensaria em outra mulher. Obá não hesitou e decidiu tentar essa fórmula com Xangô e na primeira vez que ele esteve em casa, ela preparou uma sopa. Quando Xangô perguntou para comer e viu a orelha que flutuava na sua sopa, ficou horrorizado e rasgou a cobertura da cabeça de Obá e viu o que ela tinha feito. Ficou furioso e disse que nunca iria ficar com uma mulher mutilada. Obá ficou louca e saiu correndo pela floresta, gritando, envergonhada e furiosa com o artifício que Oxum havia usado contra ela. Obá era uma mulher muito bonita antes de remover a sua orelha.
No Egito, Mut era a patrona dos reis de Thebes. Era considerada a mãe divina desta linhagem. Tornou-se esposa de Amon, o deus do sol. Como protetora da linhagem dos faraós, ela estava muito preocupada em manter a casa real. Isto corresponde com a minha visão de Obá, como a guardiã do forno e protetora da casa. Como Hera, ela era suspeita de estar envolvida em esquemas para manipular o destino entre os mortais. Ela é pintada, freqüentemente, como uma cabeça de abutre e, às vezes, é vista com um corpo humano e a cabeça de um abutre. O simbolismo do abutre a identifica realmente com o culto dos mortos e Obá possui suas conexões com os mortos, da mesma forma que Oyá e Oxum. Também se diz que Mut era mãe de Khonsu, o deus da Lua. Mut mantém uma aura de mistério, da mesma maneira que Obá. Eu sinto que a história completa destas deusas não é conhecida, ou, pelo menos, não está sendo contada.
Hera, como Obá, também era uma vítima. Obá teve de suportar Xangô e Hera teve de agüentar os constantes avanços de Zeus com outras deusas e também com as mortais. Hera foi considerada a rainha dos deuses e executava um ritual especial, todos os anos, para manter-se jovem e bonita. A lenda também diz que Obá era muito bonita, até que se desfigurou para agarrar Xangô. Tanto Hera como Obá amavam seus maridos e estavam dispostas e usar quaisquer meios para prenderem eles. Ambas pareciam estar mais preocupadas com a casa, em lugar de ter alguma preocupação com filhos ou crianças. No entanto, Hera parece ter sido mais vingativa que Obá. O sentimento de Obá parece ter sido mais de tristeza, em lugar de raiva e vingança, como era o caso de Hera. Parece que a lenda retrata tragédias que acontecem com muita freqüência com o ser humano e nós temos, aqui, o exemplo de deusas que são vítimas do destino.
Juno era o equivalente a Hera na mitologia romana. Porém, havia algumas diferenças. Juno era a deusa oficial do matrimônio. Embora, e talvez, devido ao fato de Júpiter, como Zeus, ser um marido “pulador de cerca”, Juno tornou-se a deusa do matrimônio. A lição aqui poderia ser que, se Juno conseguia manter seu casamento, apesar dos problemas, então ela poderia ajudar as mulheres mortais a fazer o mesmo. Este era o caso de Obá e Xangô, e, não esqueçamos, Júpiter e Zeus são deuses do trovão, com correspondências diretas com Xangô. Sendo Obá o orixá da casa, muitos ebós são feitos para que ela preserve a integridade da casa e do matrimônio. Obá é considerada, também, a tesoureira dos orixás. Significa que Obá pode ser muito influente para trazer dinheiro e prosperidade para uma casa.
Na mitologia grega, Héstia era uma deusa secundária, mas tinha uma posição muito importante em cada casa. Héstia era a deusa da casa e santuários em sua homenagem eram feitos em sua honra em todas as casas. Era considerada a deusa do forno ou da lareira e encarregada de proteger a casa e seus habitantes. Nos seus altares, ofereciam comida e bebida permanentemente. Aqui temos um bom exemplo de magia prática. Os gregos trabalhavam com esta deusa da mesma forma que os africanos trabalhavam com seus orixás. Eram feitas oferendas na expectativa que a proteção do deus ou deusa, em questão, fosse concedida como recompensa a atenção dispensada. Este é exatamente o mesmo procedimento que entre em jogo quando lidamos com os orixás. Você dá para receber. Fizemos sacrifícios de comida, bebida, ou animais para propiciar a ajuda dos orixás. O sacrifício é a palavra chave aqui. Sacrifícios nem sempre são de comida, bebida ou animais. Há o sacrifício do seu tempo, da sua energia, em executar certos rituais. Você tem que estar preparado para dar, da mesma forma que para receber!
Frigg, ou Freya, é a equivalente escandinava a Juno e Hera. Sempre existiu muito esse debate sobre as semelhanças das mitologias escandinavas, gregas e romanas.
Freya é jovem e forte, e não reflete os aspectos matrimoniais de Hera ou Juno. Tradicionalmente, Freya possui o título de “Rainha do Céu”, como Juno e Hera. Ela se preocupou com o matrimônio e com a prosperidade. Isto a coloca junto com Hera, Juno e com a nossa Obá. No entanto, na tradição escandinava, Freya parece ter alguns atributos de Oxum. Pode ser devido ao fato de que a cosmologia escandinava não era tão complicada quanto à cosmologia iorubana, que possuía muitas deusas, que representavam os mais variados aspectos da mulher. Talvez, os antepassados africanos estivessem mais atentos das diferenças sutis das mulheres, e suas deusas refletiram essa visão mais completa das mulheres, com deusas que representam aspectos muito diferentes.
A essência da energia de Obá, é, então, a união de um casal e a vontade de manter acesa a força de um casamento. Obá sente compaixão pelas mulheres que têm problemas com seus maridos e com suas casas. Mas esta é uma compaixão ativa. Obá trabalhará para curar a situação. Ela representa um aspecto da Grande Mãe e do sofrimento e, talvez, devido a este sofrimento, ela tem maior compaixão para os que buscam sua ajuda.
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